No palco, os Paus, os senhores do power e da batida:quatro homens,duas baterias e a barba de Quim Albergaria.

Paus não é luzes, não é efeitos de som, não é sequer voz; Paus é batida, é música crua e
dura.

“Seria desejável que fizessem outros tantos”

Na primeira atuação nas Noites Ritual, os Paus não deixaram de fazer o seu agradecimento ao festival: “um festival que consegue trazer ao centro da cidade a música portuguesa; fez 20 anos e seria desejável que fizesse outros tantos”.

Com pouco - nalgumas canções nenhum - recurso à voz, os Paus têm um toque refrescante de paixão pela música pelo que ela é: uma forma de expressão, uma demonstração de arte.

Às 22h50, com um dos singles a rodar nas rádios, tinham o público rendido. O som genuíno de Paus, forte e aliciante, entranha-se e preenche cada um dos que ouve, não deixando margens a dúvidas ou divagações: é aquilo e pronto.

Som duro é festa rija

Ambiente de música e de convívio, de roda na relva, de amigos a puxar copos, de conversas a puxar cigarros, de música a puxar amigos.

Era quase meia-noite e vinte quando se avistouA Naifa no palco. Com o fadinho e as letras poéticas, passou quase um quarto de hora até haver o primeiro envolvimento a sério do público, com Monotone, a música que “vive secretamente dentro de ti”.

A contrapor aos anteriores Paus, onde a batida não deixava margens a divagações,A Naifa apela ao lado emotivo, às segundas interpretações das palavras, à apreensão mais lenta ao ritmo do fado.

Sempre a olhar para trás, com um som saudosista, em tom de recordação, não deixa de olhar o presente; “não se deitam comigo corações obedientes”, dizA Naifa.

Mais vazia a banca do merchandising das bandas, mas mais vazias também as barracas das bebidas. Mais vazio o espaço em frente ao palco, mas mais espalhadas as pessoas pelos jardins.

Com uma vista absolutamente inigualável sobre a cidade do Porto e também de Gaia, ouvia-se “terei saudade, sempre saudade” na voz de Maria Antónia Mendes.

As dicotomias de sentido e de sentimentos pautam as canções d'A Naifa sem nunca deixar de tocar a liberdade e a leveza, as coisas boas e simples da vida.

Saudade, o sentimento tão português, não foi forte o suficiente para travar o rio de gente que começou a abandonar os jardins do palácio durante o concerto. Mas quem ficou, fez-se valer:A Naifa foi e voltou para dois encores e terminou o concerto e as Noites Ritual com um tributo a Simone de Oliveira e à sua Desfolhada.

Texto: Inês Espojeira

Fotografias: José Luis Pinto