Já sob a direção musical do suíço Baldur Brönnimann, que a partir de janeiro de 2015 se estreia na qualidade de maestro titular da Orquestra Sinfónica do Porto, 74 músicos oriundos de mais de 20 países tocaram a obra "Ruf", de Emmanuel Nunes (na foto), seguida da Sinfonia nº 5 em Mi menor, do mestre russo Tchaikovski.

A obra de Emmanuel Nunes é considerada "um dos expoentes máximos da composição musical portuguesa", segundo o maestro Brönnimann e vários músicos abordados pela Lusa, e se as suas dissonâncias, constantes desarmonias e contratempos abruptos se prolongaram por 38 minutos, os aplausos que recebeu não ficaram aquém dos que arrecadou a interpretação de Tchaikovski, de um tom mais popular.

"É uma peça muito importante na história da música portuguesa", explicou à Lusa Baldur Brönnimann, considerando também "importante para a orquestra tocar não só as obras dos grandes mestres, mas também o que representa o seu país".

O maestro de 46 anos considerou a obra portuguesa composta entre 1975 e 1977 "perfeita para orquestra", sobretudo devido às "sonoridades tão diferentes, à sua ampla imaginação, que resulta muito bem ao vivo" e especialmente numa sala "em que já tocaram as melhores orquestras do mundo".
"Provavelmente nunca a ouviram em Madrid", supôs Brönnimann, esperando que o público do auditório saísse "com uma pequena amostra do que a música portuguesa tem para oferecer".

Parte da imagem, ou som, de marca da Orquestra Sinfónica do Porto tem sido propor concertos ecléticos, que aliam ou jogam com compositores à partida dissonantes entre si, o que, para António Jorge Pacheco, diretor artístico da Casa da Música, surge de uma "aposta em divulgar e salvaguardar o património histórico, como no caso de Tchaikovski, mantendo uma preocupação e entusiasmo em defender a música contemporânea".

"Faz parte da nossa missão enquanto orquestra", considerou o diretor artístico, explicando que é sobretudo "num palco tão prestigiado como o Auditorio Nacional de Madrid que é importante mostrar compositores portugueses que este público não conhecerá, visto que a obra 'Ruf' do Emmanuel Nunes nunca foi tocada em Espanha."

Enquanto os colegas afinavam os respetivos instrumentos no que até soava a um prelúdio do que se poderia esperar da obra do compositor português, o trombonista alemão David Seidenberg confessava à Lusa "a dificuldade extrema em aprender depressa a complexidade das peças do Emmanuel Nunes".
"É muito complexo, com muitos desafios e problemas técnicos para resolver. É quase impossível entendê-lo, mesmo ao fim de muitos ensaios", desabafou David Seidenberg, ressalvando que "o que vale é que Orquestra gosta de desafios".

"As técnicas são completamente diferentes", concordava a violinista de origem russa Ianina Khmelik, considerando que "passar de peças clássicas de Tchaikovski, que toda a gente sabe tocar de cor, para o Emmanuel Nunes, é algo que enriquece a Orquestra".
"É sempre um desafio conquistar públicos diferentes, sobretudo quando são públicos entendidos", admitiu a violinista, sublinhando que tal não a intimida: "Nós somos muito bons, por isso vamos deixar boa impressão", disse à Lusa, confiante.

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