Um homem e uma guitarra, manejada com mestria e acuidade, por vezes só, outras acompanhada por uma voz em segundo plano a esconder as palavras. Assim se assinalou a rentrée na cidade do Porto, no passado dia 9, com o concerto de Six Organs of Admittance na Culturgest, promovido pela Filho Único.

Six Organs Of Admittance trata-se da designação pela qual se apresenta Ben Chasny, um virtuoso da guitarra e letrista não menos excelente. Prolífero desde 1998, data de formação do projeto, conta com um repertório cheio, com uma média de um álbum por ano, num registo com influências diversas, desde o folk mais clássico a algum psicadelismo.
O regresso do músico a Portugal foi motivado por "Asleep on the Floodpain", lançado este ano, e gravado caseiramente entre Seattle e São Francisco. Se aqui a guitarra ressurge como a força centrífuga impulsionadora em torno da qual tudo é construído, o mesmo se passou durante a atuação, como comprovou a audiência atenta e silenciosa de sexta-feira.

Dominante, o som potenciado pelas cordas, ora delicado, ora reverberante, revelou a eximidade de Chasny desde o primeiro instante, introduzida por Journey Through Sankuan Pass (“Dust and Chimes”, 2000). À guitarra foi-se juntando a voz, que surgiu pouco perceptível com Shelter from the Ash (do álbum homónimo, 2007), e uma ocasional marcação de compasso com o pé a bater no chão.
Pelo meio da atuação de pouco mais que uma hora, Drinking with Jack, “uma velha canção que escrevi para um velho amigo”, numa das raras ocasiões em que falou com o público. Para o final, Khidr and a Fountain (“Dark Noontide”, 2002), a evocar uma orientalidade contrastante com a América aludida durante o resto da noite. E no encore, Above a Desert I've Never Seen, o magnífico instrumental de abertura de “Assleep on the “Floodpain”.

O privilégio de poder assistir-se às melodias executadas compenetrada e talentosamente pelo músico, materializadas em canções inspiradas, foi acrescido pelo facto de que se pôde fazê-lo no auditório improvisado da Culturgest, com uma luminosidade subtil e acolhedora, a promover uma ambiência mais intimista.

Ben Chasny deu ainda um concerto na noite seguinte, no Teatro Maria de Matos, em Lisboa.

Texto por Ariana Ferreira