À reconquista da cidade a que chamam casa, os Sétima Legião partiram rumo ao Coliseu do Porto, no regresso àquele que foi o ponto de partida da celebração do 30º aniversário do coletivo. Repetentes que já haviam marcado presença na Casa da Música, onde se iniciou esta pequena digressão, companheiros de velhas andanças e ouvintes de novas gerações juntaram-se numa viagem que, para além de contemplar as três décadas de história da banda, retrocedeu ainda mais no tempo, de encontro até às sonoridades que lhe serviram de referência.

Apesar dos lugares que ficaram por ocupar, numa ocasião que pedia casa cheia, quem compareceu soube honrar a festa. Em cima do palco, o apreço retornado fez-se notar desde o primeiro momento, quer na entrega dos músicos, quer nas primeiras palavras dirigidas ao público por Pedro Oliveira, que garantiu ser “bom voltar a casa”. Também a atitude de Paulo Abelho confirmou ser, uma vez mais, um bom índice do entusiasmo vivido no regresso às salas de espetáculo, tanto pelo modo emotivo com que levou a mão ao peito, durante Noutro Lugar, como pelo fervor com que liderou, com fortes batidas no bombo, o grupo de gaiteiros e dois tamboristas que por várias vezes se juntou à Sétima Legião.

Para além do bombo, das gaitas-de-foles e dos tambores, também o adufe e a flauta contribuem para a portugalidade instrumental que distingue a sonoridade especial da Sétima Legião: uma mescla única resultante da fusão entre a música tradicional portuguesa de influência celta e o rock praticado em Manchester, no início dos anos 80.

Tal como na generalidade das biografias se começa por escrever a antecedência dos biografados, neste capítulo mais recente da sua história, a Sétima Legião resolveu registar o seu passado genético, no primeiro encore, sob a forma de homenagem a uma das suas maiores referências, os Joy Division. Atmosphere, o tema adaptado numa versão folk-aportuguesada, foi apresentado por Pedro Oliveira como “uma canção que nos encanta”, e que a banda, nesta celebração dos 30 anos, não podia deixar de fazer. A esta surpresa, anunciada em entrevista e nas redes virtuais, juntou-se a interpretação de Vertigem, tema deixado em repouso por mais de 20 anos.

Embora os mais audaciosos já dançassem nos corredores laterais, foram três os momentos óbvios, correspondentes a uma maior persistência histórica, que levaram a que o público do Coliseu fosse renunciando aos lugares sentados. Sete Mares, canção depois repetida, surgiu como a inevitável primeira deixa para que todos se levantassem das cadeiras. Tanto Glória como Por Quem Não Esqueci tiveram um efeito similar, entoadas em modo sing-a-long pela audiência. Mas, como “glória será não esquecer”, também os feitos não tão mediáticos desta Sétima Legião provaram-se bem lembrados na memória dos presentes. A título de exemplo, ficam Tango do Exílio, com destaque para o acordeão de Gabriel Gomes, e Manto Branco, tema inaugurado com luzes acesas, que cedo se voltaram a apagar, em mais um regresso ao palco.

E porque não faria maior sentido que esta festa acabasse na mesma alegria e no mesmo clima de partilha com que se foi moldando, Por Quem Não Esqueci (re)surgiu para o adeus. Um pequeno apontamento lógico numa celebração das memórias correspondentes a 30 anos de música e a um público que parece nunca (querer) esquecer.

Ariana Ferreira