Lançadas as primeiras três músicas do concerto, Seu Jorge revelou a “estratégia” para a noite: apresentar os temas do álbum que o trouxe a Portugal, “Seu Jorge and Almaz”, sem esquecer as músicas que o tornaram popular e que a maior parte do público queria ouvir ontem à noite no Coliseu dos Recreios.
E por isso, se nos primeiros 15 minutos de concertos se ouviu a versão do tema “Everybody Loves The Sunshine”, de Roy Ayers, presente no novo disco pela mão de Seu Jorge, também se ouviu o êxito “Carolina”, cantando praticamente em coro com a audiência.
Em quase todas as versões há mais guitarras e sons psicadélico-funks do que aquilo que estávamos habituados em Seu Jorge. Com o tema “Das model" dos Kraftwerk ou o “Pai João”, de Tribo Massai, isso foi bem visível, mas os ritmos brasileiros estão sempre à espreita, nem que seja nos passos de dança de Seu Jorge.
“Bonito voltar”, lança Seu jorge nas primeiras palavras da noite. “Sinto-me em casa”. Seu Jorge já é tanto de cá como de lá, e fala de um “povo irmão”. E porque a música em Seu Jorge raramente anda dissociada da realidade social, agradece a presença de todos, apesar da crise.
No pingue-pongue entre temas do mais recente disco e temas já bem conhecidos, Seu Jorge e o quarteto da Nação Zumbi ofereceram ao Coliseu uma versão freca e bem conseguida do tema “Tive Razão”, antes de se atirar para Michael Jackson e o tema “Rock with you”, com direito a uns passos de dança de Seu Jorge versão “rei da Pop”.
David Bowie também apareceu, com o tema “Life on Mars”, e “Chica da Silva” confirmou a onda rock psicadélica de algumas versões. Sozinho na guitarra, Lúcio Maia, da Nação Zumbi, toca o samba de “Mas que nada” logo reconhecido e cantado pelo público. Era o fim de um concerto que todos (queriam) sabiam que ainda tinha mais para dar.
Seu Jorge volta ao palco, sozinho, de violão, foco só nele. E aparece “Rebel Rebel” de David Bowie e o tão esperado “Zé do Caroço”, que, tal como noutras passagens por palcos portugueses, foi misturado com o magistral “Negro Drama” (de Mano Brown). Seu Jorge agracede, e o público também.
Quem ainda gritou pelo tema “Pretinha” vai ter de esperar para a próxima. O concerto terminou já com a Nação Zumbi de volta ao público e ao som de “Pai João” e ao ritmo de muita dança. Não tanta como noutros tempos, mas Seu Jorge cumpriu a missão de trazer mais do que a música típica do Brasil e o cheiro a feijão. Seu Jorge até pode estar mais rockeiro (mas não houve stage diving) mas ainda é o Seu Jorge que conhecemos.
Texto e fotos@Vera Moutinho
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