Neste segundo dia de festival em terras alentejanas, os portugueses Clã e Deolinda moveram multidões e nem o atraso de Kanye West fez com que o público saísse mais cedo do recinto. Segundo números da organização, estiveram presentes perto de 45 mil pessoas.

Por entre as duas entradas para o recinto, centenas de jovens que permanecem a residir no campismo, dividiam-se entre fazer compras no supermercado, as filas para a casa de banho e ainda à procura de boleia para ir a banhos na praia da Zambujeira do Mar. Dentro do recinto, as grades no palco principal começavam a desaparecer no horizonte pois alguns jovens instalaram-se de armas e bagagens para um lugar privilegiado na primeira fila. Contudo, foi no palco Jogos Santa Casa Planeta Sudoeste que surgiu a primeira surpresa do dia.

Os Clã, que são veteranos por estas andanças festivaleiras, sobretudo em cartazes Sudoeste no palco principal, regressaram desta vez para um concerto especial. Para além do público festivaleiro, estavam presentes um grupo de crianças vindas de Odemira, convidados especiais da banda. O palco estava decorado a rigor cheio de antenas parabólicas e plataformas cor-de-laranja e em cima deste, os portuenses tocaram o álbum "Disco Voador", disco esse dedicado aos supernovos e ainda tocaram êxitos como 'Carrossel dos Esquisitos', 'h2omem' e 'GTI' que todos cantaram bem alto.

"Não importa se a música é feita para crianças, mas sim o poder que ela tem" - e com esta frase Manuela Azevedo foi aplaudida até começar a cantar novamente músicas deste seu mais recente trabalho, entre elas o single 'Os embeiçados' e o divertidíssimo 'Chocolatando' que teve direito a uma super coreografia elaborada pelos próprios membros da banda.

O cartaz deste dia do Sudoeste TMN 2011 estava bastante completo em termos de diversidade musical. Neste mesmo palco passaram mais duas cantoras portuguesas e de estilos distintos: a jovem revelação do fado, Cuca Roseta e outra jovem revelação de estilo mais pop-jazz, Luísa Sobral. Ambas têm apenas um álbum a ser comercializado e ambas têm sido alvo de críticas bastante positivas pelo seu contributo na música portuguesa.

Para finalizar mais um dia de concertos no palco secundário, outro grupo veterano em anteriores cartazes do festival Sudoeste TMN 2011 - dEUS. A maneira como Tom Barman se comportou em palco é de um verdadeiro líder de uma banda de rock: fumou, bebeu e exibiu danças frenéticas por entre os acordes electrizantes das guitarras.

Os cinco elementos da banda destacam-se pela maneira como interagem com os seus instrumentos e comunicam com o público através pela maneira como sentem na pele aquilo que tocam. A tenda onde se situa o palco secundário estava praticamente lotada para um concerto que não desiludiu ninguém, recordando alguns êxitos como 'Suds and Soda' e Instant Street e apresentando novas canções que pertencem ao novo trabalho de originais que será lançado no próximo mês de Setembro. Os fãs que aguardem com elevada expectativa porque os belgas dEUS não vão desiludir.

Terminada a reportagem pelo palco secundário, recuamos umas horas para vos contar o que aconteceu no palco TMN.

Os ares e o calor do Brasil estiveram presentes com a sonoridade de Marcelo Camelo. Pronunciando um "Boa tarde" com a pronuncia portuguesa, Marcelo Camelo e a sua banda composta por dez elementos apresentou o seu mais recente disco "Toque Dela", recheado de melodias prazeirosas e com ritmos que fazem balançar o corpo. Ser a primeira banda a actuar é sempre um pouco ingrato e Marcelo Camelo merecia mais público, mas como só faz falta quem está, este portou-se bastante bem. 'Acostumar', 'Tudo o que você quiser' e 'Tudo Passa' foram tocados com uma enorme alma e o charme de Marcelo Camelo é transposto pela sua postura totalmente descontraída e, sentindo-se em casa, o cantor tirou os óculos de sol, sorriu para a plateia e tocou o grande êxito 'Janta'. A carreira de Marcelo Camelo merece ser seguida com muita atenção pois a crítica brasileira comprova muito bem todo o seu talento.

Mesmo durante o concerto de Marcelo Camelo, as pessoas dirigiram-se ao palco principal com patos de papel distribuídos por uma marca de telemóveis que patrocina o certame. Entretanto os membros da banda Deolinda subiram para o palco e mal se ouviram acordes do violoncelo, pessoas começaram a correr e a aplaudir a entrada de Ana Bacalhau. O colectivo, que já nos habituou a um registo de melodias divertidas e fáceis de decorar, conseguiu divertir todos os presentes desde o início com as músicas 'Um Contra o Outro' e 'Patinho de Borracha' onde os presentes levantaram no ar os patos de papel dando um efeito visual bastante engraçado. De seguida, Ana Bacalhau apresentou dois grandes músicos nacionais - o baterista Sérgio Nascimento e o clarinetista Miguel Veríssimo que tocaram as canções 'Mal por Mal' e 'Passou Por Mim e Sorriu'. Para terminar em grande estilo e alvoroço, 'Fon Fon Fon' e 'Parva que sou' foram cantados em unisom e aplaudido fervorosamente. Os Deolinda estão num grande caminho e a popularidade que os assiste é merecida pelo impacto internacional que têm tido.


A sonoridade reggae - pop de Patrice contagiou toda a plateia que correu para a frente do palco e que exibia as mãos no ar de modo organizado. Os singles 'Ain't Got No' e Soulstorm' foram entoados em voz alta e até assistimos a uma dança do cantor com a bandeira de Portugal em punho. O espectáculo em si foi bastante familiar, semelhante ao ambiente vivido no dia anterior. E é este tipo de ambiente que

o Sudoeste TMN 11 transmite e que deixa todos felizes.


Eis que são 00h40 e um oceano de gente (pegando no facto de este ser um festival que vive da praia) aguardava pelo concerto mais aguardado do festival - o indescritível Kanye West - mas o cantor só decidiu aparecer uma hora depois, após os ecrãs do recinto se desligarem e o corpo de 20 bailarinas subirem em palco para exibirem coreografias excessivamente trabalhadas. Kanye West surge no meio do corredor que divide a plateia através de uma plataforma elevatória que sobe cada vez mais alto e onde o fumo faz destaca-lo ainda
mais. Com uma carreira rodeada de sucessos, o seu elevado ego é inesgotável e isso faz com que haja um certo amor-ódio pela sua personalidade, mas temos que admitir que o seu talento e ao apresentar um espectáculo carregado de luzes psicadélicas e fogo de artificio, é difícil não se ficar rendido.

O concerto estava dividido em três actos, começando o primeiro acto com 'Higher' e segue com 'Power', canção do seu último trabalho de originais My Beautiful Dark Twisted Fantasy'.
A atitude convencida de Kanye West é visível e transborda segurança sob si próprio. Nenhuma palavra de cumprimento é dirigida ao público, mas este nem parece importar-se com tal. Ao longo de todo o espectáculo, Kanye West cantou também o poderoso Love Lockdown, Heartless, All Of The Lights e Homecomming (infelizmente nem a Rhianna nem Chris Martin estiveram fisicamente presentes). No terceiro e último acto, Kanye West apareceu com outra roupa e encantou com o belíssimo 'Runnaway' onde as suas bailarinas surgem com um guarda-roupa a relembrar o Cisne Negro e o espectáculo termina com 'Hey Mama' música que o cantor dedica sempre à sua falecida. Portugal cá o aguarda novamente, mas desta vez sem atrasos.





Texto: Ana Cláudia Silva
Fotografias: Filipa Oliveira