Numa atmosfera sombria, adensada pela iluminação azulada, e em concordância com as palavras, os Supernada estrearam-se em palco com Ovo de Silêncio. Seguiu-se Animais à Solta, no mesmo tom de negrume algo alucinado, até Sonho de Pedra, com o rock a ser pontuado por barulhos produzidos por um leitor de cassetes. Com um brinde de água não azarado, em jeito de cumprimento, o vocalista saudou o público que, através de Passar à Volta, A Estética da Ética, Nada de Deus e Invisível Mundo, foi travando conhecimento com o novo trabalho.
Desde os Ornatos Violeta que Manel Cruz se tornou numa espécie de fenómeno de popularidade, transversal a credos musicais e faixas etárias. Pode muito bem não ter “jeito para peixe de rio”, como cantou mais adiante, em Arte Quis Ser Vida, mas portou-se, sem dúvida, como peixe na água, perante uma audiência sempre atenta e entusiasmada, que o levou a confirmar “o prazer de estar Hard Club”.
A fazer jus ao título, num desvario de ruído e distorção, Perigo de Explosão fez o aquecimento para Isto Não é Nada, na preparação para Anedota, “uma das mais antigas que sobreviveu à nossa loucura” e, a julgar pelas reações, à memória dos presentes. O Meu Livro, Arte Quis Ser Vida e Pai Natal encaminharam a noite para o fim, com Letras Loucas a atestar a intensidade instrumental com os músicos (à exceção de Eurico, enclausurado no forte de teclas e sintetizadores) a tocarem quase que para si próprios, em redor da bateria.
Ao ritual de cumplicidade sucedeu-se outro ritual já enraizado, com Cruz a ironizar a condição institucionalizada do encore com um “não fazia a mínima ideia que ia voltar ao palco”. O trunfo bem guardado para este momento deu-se pelo nome de Espuma, a fechar com chave de ouro e em bom português a noite de quarta-feira, que pelos lados do Hard Club terminou cedo, mas bem.
Texto: Ariana Ferreira
Fotografias: José Pinto
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