A completar o trio de mulheres imbatíveis de 1995, Björk marcou o ano com "Post", curiosamente editado também a 13 de junho. Num dos seus álbuns mais ecléticos, lúdicos e imaginativos, a islandesa reforçou o estatuto de carta fora do baralho da pop, recrutando colaboradores de peso - como Tricky, Nellee Hooper ou Howie B - e deixando aqui alguns dos seus clássicos - caso de "It's Oh So Quiet", "Army of Me" ou "Hyperballad", todos capazes de encontrar no videoclip uma ferramenta forte na consolidação de uma obra.

Mesmo que não se tenha apresentado em nome próprio, Shirley Manson também integra a lista de figuras femininas icónicas de 1995. Seria impossível pensarmos nos Garbage sem a voz e figura carismáticas da vocalista escocesa, por muito que a eletrónica dos norte-americanos Butch Vig, Duke Erikson, Steve Marker, os três produtores de serviço, tenha mostrado os seus encantos. Apesar de vincadas por heranças alternativas (de várias escolas), canções como "Only Happy When It Rains", "Stupid Girl", "Milk" ou "Queer" contaram também com uma sensibilidade pop capaz de atingir - e cativar - vários públicos, numa das estreias mais memoráveis do ano.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a britpop conhecia o seu auge com o regresso de duas das suas referências mais emblemáticas. E não por acaso, o regresso deu-se no mesmo dia: 14 de agosto, data da edição de "Contry House", dos Blur, e "Roll With It", dos Oasis, respetivamente o primeiro e segundo singles dos novos álbuns das bandas. O grupo de Damon Albarn acabaria por ganhar nas tabelas de vendas, ainda que a disputa - alimentada pela imprensa britânica - estivesse longe de terminar. A 11 de setembro, os Blur voltariam a despertar atenções com "The Great Escape", o seu quarto álbum, numa altura em que o antecessor, "Parklife", editado no ano anterior, ainda lhes garantia invejáveis índices de popularidade. Menos de um mês depois, "(What's the Story) Morning Glory?" trazia de volta os Oasis, num muito aguardado segundo disco que revelou novos hinos dos irmãos Gallagher - com destaque obrigatório para "Wonderwall", banda sonora de inúmeras adolescências.

Também alvo de devoção adolescente, os No Doubt provaram que à terceira foi de vez: "Tragic Kingdom", editado a 10 de outubro, inaugurou uma nova etapa para a banda de Gwen Stefani, decididamente mais bem sucedida do que a dos dois discos anteriores. "Just a Girl", "Don't Speak" ou "Sunday Morning", entre outros temas (o disco teve sete singles), adocicaram a receita do grupo com temperos ska, new wave, funk ou punk, e levaram o sol californiano além fronteiras. As rádios deram-lhes carta branca, a MTV também, e no ano seguinte os tops, tanto europeus como os dos EUA, passaram a contar com os No Doubt entre os habitués.

Poucos dias depois, a 25 de outubro, os Smashing Pumpkins editavam também o seu terceiro álbum. Mas se os No Doubt ganharam fãs pela despretensão, a banda de Billy Corgan impôs-se pela ambição, propondo um álbum duplo com uma viagem por ambientes díspares, no seu registo mais aventureiro e abrangente. Juntamente com o antecessor "Siamese Dream" (1993), "Mellon Collie and the Infinite Sadness" registou o período de maior popularidade do quarteto de Chicago, conquistando lugar na lista de discos de rock mais acarinhados da década. "Tonight, Tonight", "Zero", "Bullet with Butterfly Wings" ou "1979" foram alguns dos cartões de visita, mas o alinhamento de 28 temas guardava outros argumentos tão ou mais fortes do que os singles.

Ainda a caminho da consagração, os Da Weasel destacaram-se entre a produção nacional com "Dou-lhe com a Alma", o seu primeiro álbum, que assinalou uma viragem para a escrita em português depois da aposta no inglês em "More Than 30 Motherf***s", o EP de estreia da banda de Almada, editado no ano anterior. Pacman começava então a revelar-se um dos melhores contadores de histórias que tínhamos por cá, musicalmente falando, e os Da Weasel seriam considerados a banda do ano nos Prémios Blitz 1995, num início de percurso auspicioso que os tornaria num dos grupos mais marcantes da sua geração.

@Gonçalo Sá