Já visitaram palcos nacionais dezenas de vezes e, numa altura em que se aproximam dos 30 anos de carreira, os Young Gods continuam um caso sério de entusiasmo por cá. A mais recente digressão, que já os levou ao Porto e os apresenta hoje na Guarda, passou ontem pela capital, deixando bem composta uma sala que teve lotação esgotada na noite anterior.
"Everybody Knows", o novo disco, editado em Novembro, não mostra propriamente o trio suíço (que no palco foi um quarteto, com o multi-instrumentista Vincent Hanni) no pico da sua criatividade. A contribuição do grupo para alargar os limites do rock industrial - e não só - foi mais expressiva nos primeiros álbuns, o que não impede que ao vivo mantenha ainda um carisma assinalável.
Franz Treichler, o vocalista, foi o principal catalisador dessa boa forma em palco. Os seus movimentos de dança, por vezes desenfreados, lembraram os de um xamã apache em pleno exorcismo, impressão reforçada pelo cabelo comprido e rugas que lhe marcam o rosto. Essa carga mística andou lado-a-lado com um ambiente de filme futurista pós-apocalíptico, imaginário sugerido sem ser preciso recorrer a grande aparato visual - um simples mas cuidadoso trabalho de iluminação, aliado a um som denso com texturas envolventes, foi suficiente.
No alinhamento, os Young Gods cumpriram o que prometiam: "Everybody Knows" foi mesmo o destaque central e talvez por isso a actuação tenha apresentado alguma irregularidade. Se "Blooming" propôs um início contido e intrigante e "Miles Away", mais à frente, soube conciliar intensidade e ritmos dançáveis, momentos como "Hey Mr. Sunshine" funcionaram mais como compasso de espera até à próxima canção.
Mas o final acabaria por compensar alguns desequilíbrios e, com uma pequena colecção de clássicos, mostrou ser a ocasião para a qual o público estava a guardar-se. O encore arrancou prego a fundo com "Gasoline Man" e acelerou ainda mais com "Kissing the Sun" ou "Skinflowers", temas que serviram os apetites de dezenas de headbangers.
A fechar, a bilingue "Once Again" (cantada em inglês e francês) regressou ao presente e à calma (relativa) de episódios anteriores. A canção, que é também a derradeira do novo disco (e talvez a melhor), fez a despedida com uma bateria tão repetitiva quanto hipnótica, atmosfera sufocante q.b. e pontuais descargas de guitarra. E deixou assim um belo final para quase duas horas onde a tensão da música contrastou com muitos sorrisos - tanto dos espectadores como da banda. Provavelmente, não faltará muito para que voltem a repetir-se.
Texto @Gonçalo Sá/ Fotos @Eduardo Santiago
Videoclip de "Envoyé!", o primeiro single dos Young Gods:
Videoclip de "Rue Des Tempêtes":
Videoclip de "September Song":
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