O antagonismo de sentimentos pode parecer confuso, mas para a cantora israelita, que está em Portugal para dois concertos, não há nada mais claro: “Sinto-me muito feliz quando canto algo triste”.
“Canto sempre canções tristes. Quando canto canções alegres, não o faço por mim, mas sim pelo público. Se dependesse de mim, só cantaria canções tristes, porque sinto-me mais cómoda e posso viver de verdade a tristeza”, confessou à Agência Lusa.
Se tivesse de explicar o que é a sua música, Yasmin Levy diria que é “alma, pena, dor e tristeza”, características que herdou de dois tipos de música únicos: o ladino, a língua dos judeus sefarditas expulsos da Península Ibérica, e o flamenco.
“Eu nasci e cresci a ouvir o ladino, porque o meu pai e a minha mãe eram cantores de música sefardí, mas sempre senti que lhe faltava paixão. O ladino é muito delicado, muito velho, mais velho que o fado – são canções que têm 500 anos. Quando eu descobri o flamenco, descobri a paixão”, contou.
Desde esse momento, Yasmin Levy nunca mais conseguiu deixar o estilo flamenco: “Eu não sou cantora de flamenco, eu não canto flamenco, mas canto o ladino com a paixão do flamenco”.
Filha de Yitzhak Levy, um grande conhecedor da tradição ladina, que pesquisou e recuperou canções em ladino, a autora de “Sentir” reconhece o peso das palavras que interpreta.
“Quando canto em ladino, música tradicional muito antiga, faço-o com muito respeito, é uma responsabilidade muito grande, porque são canções que não são minhas. São a minha vida, mas são do povo sefardí”, disse
Para a cantora que nasceu e vive em Jerusalém, mas que tem raízes turcas, a simplicidade do castelhano foi a fuga necessária para o peso do ladino, algo “quase sagrado” na sua vida, por serem as suas raízes, a sua história e o seu pai.
“É importante para mim escrever a minha música também e, quando o faço e canto as minhas canções, faço-o em espanhol, porque tenho mais liberdade”, acrescentou.
Yasmin Levy acredita que a música é a melhor maneira de comunicar: “Eu gostava de tocar com um palestiniano porque sou israelita, mas provavelmente um palestiniano nem falaria comigo como pessoa. Mas se o convidasse para actuar, como música, ele tocaria comigo”.
A cantora israelita classifica a sua música como tolerante, algo que fundamenta com colaborações com “muçulmanos, judeus, cristãos, gente de todo o mundo”.
“Tenho um dom de Deus que me permite fazer música com outros, que têm diferentes tradições, formas de viver, mas que respeitam as diferenças. E eu acredito nisso: há que viver e deixar os outros viver, como quiserem”,
Yasmin Levy assegura que não é política e recusa-se mesmo a abordar o tema por considerar que torna a sua alma e a sua música “sujas”.
“A música é tudo para mim, e é simplesmente sentimentos”, concluiu.
@SAPO/Lusa
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