"A Agatha está no fundo dos meus ossos. Amo-a tanto", confessa Kathryn Hahn numa mesa-redonda por videoconferência na qual o SAPO Mag participou. E a atriz não está sozinha nesse encanto pela personagem que surgiu no Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) como antagonista de "WandaVision" (2021), a primeira e muito elogiada incursão televisiva dos estúdios que se têm destacado, há mais de 15 anos, com filmes do Homem de Ferro, Capitão América, Thor ou Guardiões da Galáxia.

A bruxa encarnada pela norte-americana estava longe de ser das figuras mais conhecidas da BD, mas a adaptação (muito livre) vista na aposta centrada na Feiticeira Escarlate e no Visão, dois membros dos Vingadores, apresentou-a da melhor forma a novos públicos.

Kathryn Hahn, cujo talento para a comédia já tinha sido várias vezes comprovado no grande e no pequeno ecrã (dos tempos distantes de "Como Perder um Homem em 10 Dias" à minissérie "Mrs. Fletcher", pequena pérola da HBO), revelou-se uma ótima escolha para a misteriosa mulher que começou por entrar em cena como vizinha pespineta e ajudou muito para que a saga se tornasse um fenómeno viral - não faltaram memes com a sua já icónica piscadela de olho ou a frase (e também canção) "Agatha all along" ("Foi sempre a Agatha"), que inspirou o título da nova estreia do Disney+.

Agatha All Along
Agatha All Along O elenco de "Foi Sempre a Agatha"

O deleite com que a norte-americana se atirou à personagem mantém-se numa conversa em que não se cansa de vincar o reencontro feliz, mais uma vez ao lado de Jac Schaeffer (criadora, argumentista e produtora executiva que agora também realiza alguns episódios). Desta vez, não é antagonista mas protagonista, ainda que esta minissérie não abdique "das partes divertidas, das partes perversas e das partes sarcásticas" que vincaram a sua passagem por "WandaVision", assinala.

"Era importante para a Jac e para mim certificarmo-nos de que esses elementos continuavam a ser transportados para esta série", explica. "Mas nesta série, como temos mais espaço, era interessante para nós descobrir porque é que ela é como é, e também através deste incrível elenco, este clã que ela tem de formar", acrescenta. O elenco, que de facto promete, junta nomes como Aubrey Plaza, Patti LuPone, Debra Jo Rupp, Sasheer Zamata, Ali Ahn ou Joe Locke, este último conhecido pela série "Heartstoppers" (Netflix) e que alguns fãs acreditam vir a ser Wiccan, um dos filhos da Feiticeira Escarlate e Visão.

Kathryn Hahn
Kathryn Hahn Kathryn Hahn créditos: Lusa

"É muito difícil para uma bruxa estar sozinha"

"Acho que o que separa a nossa série de qualquer outra série do MCU é que tem um elenco de mulheres e um belo jovem que também é um bruxo, e todos são de diferentes idades, diferentes raças, diferentes origens, e por isso parece muito novo", diz Hahn em resposta ao SAPO Mag. "Continua a ser assustador. Tem todos os elementos de outras séries do MCU, mas é sobre bruxas. Também acho que o que o diferencia é o facto de haver muito pouco CGI. Tudo é muito prático. Por isso, vão ver cenários pintados, vão ver miniaturas que nem sequer vão conseguir perceber o que são, ou talvez consigam. Foi uma experiência muito envolvente e parece mesmo um daqueles filmes antigos, todos filmados em estúdio. É divertido", avança.

A atriz também realça que "Foi Sempre a Agatha" se distingue facilmente de outras séries de bruxas. "Brinca com o género, o tom e a surpresa. A narrativa não parece linear, como muitas outras séries tendem a ser. E há muitas séries de comédia sobre bruxas que adoro e que se enquadram definitivamente no género de bruxas deste programa, mas este é mais sombrio", contrasta, sublinhando ainda o peso das novas personagens que acompanham a protagonista. "Acho que ela é muito dúbia, por isso as suas intenções são muito misteriosas, mas uma bruxa precisa de um clã. É muito difícil para uma bruxa estar sozinha. E é sempre isso que vemos nos filmes e na televisão, estas bruxas solitárias. Raramente vemos um clã. Julgo que é isso que é bonito nisto, essa confiança, segurança e autenticidade de pertencer a um grupo."

Agatha All Along
Agatha All Along Kathryn Hahn como Agatha Harkness

Disposta a tudo

"Acho que ela tem uma verdadeira fome de poder. É isso que ela quer", observa Kathryn Hahn sobre a jornada da sua personagem ao longo de nove episódios. "E a razão pela qual ela o quer tanto e é tão obstinada tem origens bastante surpreendentes. Acho que essa é uma parte da Agatha que vai ser muito interessante para as pessoas verem", antecipa.

"Passou por algumas coisas que ainda está a tentar perceber, perdeu três anos da sua vida sem quaisquer poderes ou sem qualquer sentido de si própria, qualquer identidade, exceto a vizinha intrometida, que era o feitiço que a Wanda lhe tinha posto. E se a sua identidade tinha sido, antes disto, o seu poder e a sua procura de mais poder, faz sentido para mim que ela se empenhe em consegui-lo por todos os meios necessários", defende a atriz.

Agatha Harkness
Agatha Harkness A versão original da BD de Agatha Harkness

Mas embora a situação atual de Agatha seja consequência dos acontecimentos de "WandaVision", Hahn garante que não é preciso ter visto essa minissérie para acompanhar a nova. "'WandaVision' é uma série da qual me orgulho muito. Toda a gente é tão fantástica nela que seria divertido vê-la. Mas acho que esta série não precisa de qualquer explicação sobre o que ocorreu antes para poder ser apreciada", frisa, partilhando a opinião da colega Debra Jo Rupp.

Quem nunca se cruzou com a versão original de Agatha Harkness, criada por Stan Lee e Jack Kirby para uma BD do Quarteto Fantástico em 1969, também não precisa de se preocupar. Este é dos casos em que a fidelidade à matriz dos comics não foi uma grande inquietação criativa. "Ela aparece muitas vezes, mas em diferentes iterações ao longo da banda desenhada. Ela é como uma mentora, uma ama, uma figura maternal. Ela é todas essas coisas", nota Hahn. "E o que a Jac criou para a 'WandaVision', e depois nesta série, aprofundando-a, é uma amálgama. Não nos sentimos obrigados a seguir um enredo rigoroso, porque não há nenhum. Por isso, parece muito novo", recorda.

"Poder ir da 'WandaVision', que era uma viagem tão divertida para ela, para outro sítio, foi um desafio e também uma oportunidade que os atores não costumam ter. Embora, é claro, seja a mesma pessoa, a mesma bruxa. Mas pudemos explorá-la a sério", partilha. "Sou uma atriz, por isso um papel assim é dos mais suculentos. Nunca quis que acabasse."

Os dois primeiros episódios de "Foi Sempre a Agatha" podem ser vistos em Portugal no Disney+ a partir desta quinta-feira, 19 de setembro, um dia depois da estreia nos EUA. Os restantes sete chegam à plataforma de streaming semanalmente, nas próximas quintas-feiras, até 7 de novembro.

TRAILER DE "FOI SEMPRE A AGATHA":