Em declarações à agência Lusa, Joaquim Lourenço disse que escolheu “alguns clássicos da música ligeira nacional para contar como era viver os tempos antes do 25 de Abril, mas também depois da Revolução, que trouxe uma mudança extraordinária e foi o melhor que podia ter acontecido”.

“Era uma vez um País” estreia-se no dia 20, às 21:30, no Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira, no concelho da Moita, e vai percorrer o país, com datas já previstas em Lisboa, no Teatro Capitólio, dia 05 de outubro, e no Porto, no dia 10 de outubro, no Teatro Helena Sá e Costa.

O título escolhido, “Era uma vez o País”, foi retirado do poema “As Portas Que Abril Abriu”, de José Carlos Ary dos Santos, mas esteve para se intitular “Era outra vez um País”, disse o músico.

“É um espetáculo de cruzamento artístico”, afirmou Lourenço, referindo que cruza artes como a música, a dança, o teatro e o vídeo.

“Era uma vez um País” tem encenação e dramaturgia de Joaquim Lourenço, que interpreta as diferenças canções, coreografia de Catarina Gonçalves, que faz par, em cena, com o bailarino Bruno Freitas.

No espetáculo são utilizadas imagens em vídeo dos arquivos da RTP e da Associação 25 de Abril, das décadas de 1960 a 1980. Por exemplo, uma das imagens utilizadas é a das despedidas das famílias dos jovens que seguiam para a Guerra Colonial, no Cais da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa, ou da euforia nas ruas do dia da Revolução.

Sobre a escolha das canções, Joaquim Lourenço afirmou que “foi uma seleção a partir da música ligeira portuguesa, mas deve-se dizer que é música muito sofisticada, do ponto de vista melódico, harmónico e orquestral”.

Para referenciar a emigração portuguesa para França e Alemanha nas décadas de 1960 e 1970 foi escolhido “Cantar da Emigração”, de Adriano Correia de Oliveira.

A Guerra Colonial é referenciada através das canções “Menina dos Olhos Tristes”, de José Afonso, e “Os Lobos e Ninguém”, de Carlos do Carmo.

As perseguições políticas e a prisão, realidades quotidianas do Estado Novo, são evocadas através das canções de José Afonso “Vejam Bem” e “A Morte Saiu à Rua”.

Sobre a situação de miséria e pobreza que se vivia “e o trabalho infantil que se verificou até à década de 1980”, faz parte do alinhamento outra canção do José Afonso, “Menino do Bairro Negro”.

“A Revolução [de Abril] não mudou o país de um dia para o outro, mas fez uma mudança extraordinária no país”, disse o músico, que assinala críticas à situação que se vive hoje, onde persistem “certas realidades sociais, com os devidos contextos”.

“O cenário de guerra está aí a ameaçar a Europa e já se fala em repor o serviço militar obrigatório, a emigração dos jovens, nomeadamente licenciados, é uma realidade, e os que ficam enfrentam dificuldades, como os baixos salários e a procura de habitação própria”, afirmou o músico.

A “nova emigração” é ilustrada pela canção “Para os Braços da Minha Mãe”, de Pedro Abrunhosa e Camané, e as dificuldades dos jovens através da canção “Parva que Sou”, dos Deolinda.

“Se dantes se afirmava que a ‘cantiga é uma arma’, eu diria que a canção é, hoje, uma forma de pensar e de denunciar”, disse.

Neste espetáculo Joaquim Lourenço é acompanhado pelos músicos João Guerra Madeira (piano), Pedro Santos (acordeão), António Barbosa (violino), Daniela de Brito (violoncelo), Gonçalo Santos (bateria), Naná Sousa Dias (saxofone) e Eurico Machado (guitarra portuguesa).