A peça já foi vista por mais de 6000 pessoas, afirmou a encenadora à agência Lusa, que justificou este número de espectadores devido “à chamada de atenção do aniversário” e, apesar de a companhia “não ir continuar os festejos”, tem previsto “uma ida ao Porto, à Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo ou ao Teatro Carlos Alberto”.
“Há muito tempo que não vamos ao Porto, assim, com um trabalho de fundo. Nos primeiros anos d’A Barraca era habitual irmos ao Porto, a determinada altura começou a tornar-se mais complicado, a vida teatral começou a organizar-se de outra maneira, nós também, com pouco dinheiro para tomar a iniciativa, e deixámos de ir há muito tempo”, disse.
No ano passado, porém, A Barraca esteve no Porto, “mas com duas peças pequenas [em termos de logística de montagem], a ‘D. Maria, a Louca' [de Antônio Cunha] e o ‘Menino de sua avó’ [de Armando Nascimento Rosa]”.
“A Clarabóia”, realçou a encenadora, “só foi possível levar a cena graças aos esforços da Fundação José Saramago, que, através do Fundo do Fomento Cultural, conseguiu os meios financeiros mínimos para a levar à cena”.
“Não custeou a montagem, mas serviu para termos um arranque mais desafogado e foi um estímulo”, desabafou a encenadora.
“A Fundação não pôde dar dinheiro, mas pôde demonstrar interesse e foi isso que fez, tanto mais que esta peça faz parte de uma trilogia sobre Saramago que pensamos levar a cena. ‘A claraboia”, e também ‘O ano da morte de Ricardo Reis’, que está já em fase de ensaios de leitura, e a reposição de ‘O conto da ilha desconhecida’, para os mais novos”.
A peça “O ano da morte de Ricardo Reis” é previsível estrear em maio, adiantou a encenadora.
Questionada sobre os constrangimentos financeiros que a companhia enfrenta desde 2013, depois dos acentuados cortes do Estado nos apoios quadrienais [2013-2016], Maria do Céu Guerra afirmou que a situação “serviu para testar a relação que, ao longo destes anos”, foram criando com o público e com as instituições.
Uma petição com mais 8000 assinaturas desceu ao plenário da Assembleia da República, em fevereiro de 2014, pedindo mais apoio financeiro para A Barraca, “todos os grupos parlamentares, à exceção do CDS-PP, que colocou umas questões, manifestaram-se solidários e admiradores do trabalho da companhia”, mas não houve mais dinheiro para o grupo, que está agora à espera das diretivas do novo ministro da Cultura, João Soares.
Todo o empenho, “dinheiro não deu, mas deu estímulo", disse a atriz e encenadora, referindo-se ao trabalho da companhia. "Num curto espaço de tempo, mais de 8.000 pessoas mostraram o seu apreço pelo trabalho d’A Barraca”, disse emocionada.
A atriz afirma que “tem sido excecional esgotar a sala [160 lugares]”, mas recordou “que há obrigações de cariz social a cumprir por parte d’A Barraca, nomeadamente, os descontos para a terceira idade, desempregados e estudantes, entradas gratuitas para determinados grupos carenciados e para a Junta de Freguesia”.
Maria do Céu Guerra reconhece que, enquanto grupo, sempre se olharam tendo em conta o apoio estatal e “não vivendo exclusivamente da bilheteira”.
“Nascemos e desenvolvemos a nossa atividade a contar com um apoio que nos garantia essa possibilidade [de levar o teatro a camadas sociais que não tinham meios financeiros]. Nós nunca nos olhámos como um grupo que vive exclusivamente da bilheteira”, disse, acrescentando que, “quem é subsidiado é o público, porque se permite dar facilidades a muitos grupos com dificuldades, e no sentido de fomentar o gosto pelo teatro e permitir a fruição do teatro pelos grupos mais carenciados”.
Os 40 anos d’A Barraca, para Maria do Céu Guerra uma das fundadoras, foram "uma aventura interessante”.
“Faz a minha vida ter valido a pena. São 40 anos de paixões, de sobressaltos, de sucessos, de medos, de insucessos, de grandes momentos, de muitas viagens, de confrontos com muitos textos e muitos autores, o que conseguimos e não conseguimos; a aprendizagem que tivemos e temos”, enfatizou a atriz de 72 anos.
Quando começou, há 40 anos, Maria do Céu Guerra, “muito francamente”, nunca pensou que projeto fosse tão longe.
O projeto cresceu “pelo ir gostando cada vez mais, [pelo] criar e o ser cada vez mais impossível esgotar esta aventura e esta relação com o público”.
Para o grupo foi essencial o apoio do então presidente da Câmara de Lisboa, Nuno Krus Abecassis (CDS), “homem extraordinário, de visão, que acreditou no grupo, porque tinha ouvido falar muito bem dele no Brasil”, e facilitou, mediante um protocolo um espaço, o Cinearte, onde A Barraca apresenta as suas produções.
“Hoje subo aquelas escadas e ainda não acredito que temos um espaço nosso”, disse.
Do grupo fundador, entre outros, Maria do Céu Guerra recordou os companheiros Mário Alberto, Mário Viegas, Samuel, entre muitos outros músicos, Luís de Lima, Vergílio Martinho, Manuel Marcelino e Hélder Costa, que se juntou à companhia logo no segundo ano, para encenar “Liberdade, liberdade”.
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