"A história de Ferdinando" foi inicialmente publicada há 80 anos, mas tem subjacente uma mensagem de tolerância e paz e uma leitura sobre defesa dos direitos dos animais que se enquadra na atualidade.

O protagonista é um touro que, ao contrário de outros touros, não sonhava ser escolhido para touradas e preferia passar os dias a cheirar flores no campo, debaixo de um sobreiro.

"O lirismo da prosa, a linguagem próxima da infância e um subtil humor são algumas das qualidades deste texto com que Munro Leaf questiona as touradas e rejeita a violência, além de apoiar a liberdade individual e o respeito pela diferença", escreve a editora Kalandraka na nota apresentação do livro.

A verdade é que nos anos 1930 "A História de Ferdinando" foi considerado, por muitos, um livro subversivo e perigoso. Em Espanha foi banido por ter sido interpretado como um panfleto pacifista durante o regime de Franco. Na Alemanha, Adolf Hitler mandou queimar todos os exemplares.

Em cerca de 800 palavras, escritas numa hora por Munro Leaf em outubro de 1935, o livro é "uma alegoria paacificsta e antibélica", do qual já se fizeram cerca de 60 traduções, refere a editora.

Em 1938, os estúdios Disney adaptaram este conto ilustrado para cinema, que acabou por ser premiado com um Óscar de melhor curta-metragem de animação.

A divulgação internacional e sucesso do livro terá apanhado os autores de surpresa. Quando a edição do livro cumpriu 50 anos, em 1986, Margareth Leaf, viúva de Munro Leaf, contou ao jornal Washington Post que "as pessoas o levaram demasiado a sério".

"O meu marido só queria escrever uma história para o Robert Lawson ilustrar. Ele pensou em escrever uma história com um animal sobre o qual ninguém tinha escrito ainda... e os únicos nomes espanhóis que ele conhecia eram Ferdinando e Isabel, por causa de [Cristóvão] Colombo", contou àquele jornal.

A verdade é que o livro, com uma apelativa capa vermelha e detalhadas ilustrações a preto e branco, se tornou um dos mais conhecidos do percurso literário de Munro Leaf, que publicou cerca de 40 obras para a infância e que morreu em 1976, com 70 anos.

A edição portuguesa de "A História de Ferdinando" remete para a edição original de 1936 e conta com tradução de Carla Maia de Almeida.