"Divertimo-nos muito e as pessoas que estavam lá adoraram. E depois começámos a receber pedidos para concertos em 2014 e enfim, ainda era tecnicamente o 20.º aniversário", ri Kim Deal, a líder do grupo norte-americano.

"Dizíamos a nós mesmos 'só querem ver-nos no palco'. Pouco importa que canções tocamos. E assim começou algo novo", contou a vocalista à AFP por telefone da sua cidade natal de Dayton, Ohio, no norte dos Estados Unidos.

O novo ímpeto deu à luz "All Nerve", o primeiro álbum - que será lançado esta sexta-feira - a reunir os membros originais dos Breeders desde "Last Splash", de 1993. E o anúncio de uma grande digressão mundial para o início de abril, que os levará ao Canadá ou a França.

'Nada de laptops' 

De discussões a problemas de dependência química: apesar da influência dos Breeders sobre uma geração de artistas, a reunião demorou 25 anos a concretizar-se.

"All Nerve" consegue ressuscitar as guitarras grunge e despreocupadas do quarteto, ícone do rock alternativo dos anos 1990, mantendo uma sonoridade atual.

Também baixista dos Pixies até 2013, outro nome emblemático da cena independente, Kim Deal impregna a música com riffs nebulosos e a sua voz rouca e calorosa.

Breeders

A sua irmã gémea Kelley, também na guitarra, a baixista Josephine Wiggs, que deixou a sua marca registada na canção mais famosa de "Last Splash", "Cannonball", e o baterista Jim Macpherson completam a formação original.

A cantora diz que a letra de "All Nerve", a faixa-título, surgiu numa manhã quando ia encontrar os outros membros do grupo para uma das suas "jam sessions" com um sabor decididamente analógico.

"Foi mesmo orgânico. Não somos um grupo típico com laptops, não há laptops na sala", diz Kim Deal.

Os Breeders gravaram o seu álbum em três estúdios, incluindo, em Chicago, o Electrical Audio de Steve Albini, famoso produtor de rock independente, conhecido pelas suas gravações ao vivo, como com os Nirvana.

'Sem convite' 

Apontado entre os melhores álbuns da década de 1990 pela revista Rolling Stone e pelo site Pitchfork, "Last Splash" foi lançado quando o rock independente se tornava decididamente mainstream.

Mas "All Nerve" chega num momento muito diferente, quando o rock parece ter perdido o seu lugar proeminente e o mundo da música está agora centrado nos principais temas da sociedade.

Entre as mulheres mais influentes do rock independente, Kim Deal reflete sobre o recente movimento #MeToo contra o assédio e a agressão sexual.

A vocalista lembra episódios que revelam algum machismo. Como quando Josephine Wiggs precisou de equipamentos para o seu baixo e o dono de uma loja em Dayton pediu para ela se sentar no seu colo. Um comportamento que ele provavelmente não teria tido com um homem, refere Kim Deal.

Mas a cantora insiste que as mulheres sempre estiveram no coração do rock. Mesmo que os homens mais influentes - promotores ou jornalistas - não lhes tenham dado o lugar que mereciam.

"Só porque não vemos grupos de mulheres nos festivais este ano não significa que as mulheres não formam grupos. Só não são convidadas", remata.