“Eu e o Bernardo já tínhamos falado da nossa vontade de fazer uma novela gráfica. Comecei a fazer experiências nesse registo e fui mostrando ao Bernardo e à Isabel Minhós Martins, a minha editora e primeira (e primordial) leitora”, explicou Ana Pessoa à agência Lusa.

“Desvio”, que sai com 'selo' da editora Planeta Tangerina numa coleção para leitores adolescentes, começou a ser trabalhado há mais de um ano, com Ana Pessoa a escrever sobre tédio e "esta ideia de estar sozinho em casa”, muito antes de uma pandemia obrigar milhões a ficarem confinados.

“Em março [deste ano], quando rebentou a COVID-19, já tínhamos o livro quase feito. Até fiquei triste com a coincidência, porque de repente ficámos todos em casa, mas não por opção”, lamentou Ana Pessoa.

“Desvio” é protagonizado por Miguel, um rapaz de 18 anos que decide ficar sozinho em casa durante parte das férias de verão. “E a história basicamente são as reflexões do Miguel nesse período de pausa”, porque “os pais foram de férias, a namorada pediu-lhe um tempo e os amigos estão num festival de música”.

Ana Pessoa recorda que, desde início, a história foi pensada para ser uma novela gráfica, um registo sobre o qual já tinha manifestado vontade de experimentar com Bernardo P. Carvalho.

Pensar numa banda desenhada obrigou-a “a trabalhar em três narrativas diferentes em simultâneo: as reflexões da personagem, os diálogos e a narrativa visual de tudo o que se passa”, e avançar num trabalho colaborativo com o ilustrador e a editora para perceber como estava a funcionar em termos de ritmo e narração.

Desvio

“Foi um processo muito diferente de qualquer outra coisa que eu tenha feito antes”, disse.

Esta não é a primeira colaboração entre Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho. Antes de “Desvio” fizeram “O caderno vermelho da rapariga carateca” (2012), “Mary John” (2016), que inclui algumas páginas em registo de banda desenhada sem texto, e “Supergigante” (2017).

Nascida em Lisboa, em 1982, Ana Pessoa vive em Bruxelas, onde trabalha como tradutora e, recorda, tem acesso a muita banda desenhada.

“Gosto de novelas gráficas e de projetos mais independentes. Gosto muito do registo e adoro ir a livrarias especializadas. Em Bruxelas há uma grande tradição de banda desenhada, por isso o acesso é fácil”.

Para “Desvio”, Ana Pessoa voltou a ler várias novelas gráficas, para tentar perceber a linguagem visual, e cita alguns autores, como Bastien Vives, autor de “Uma irmã” e “Polina”, editados em Portugal, Brecht Evens e Frederik Peeters.

Ana Pessoa, Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2018 e Prémio Branquinho da Fonseca 2011, é autora ainda dos livros “Aqui é um bom lugar”, ilustrado por Joana Estrela, “Eu sou eu sei”, com Madalena Matoso, e “Assim ou assado”, com Yara Kono.

Bernardo Carvalho, ilustrador e designer gráfico, 47 anos, é um dos fundadores da Planeta Tangerina, autor ou ilustrador de mais de duas dezenas de livros para crianças e jovens, editados em 25 países.

Prémio Nacional de Ilustração em 2009, Bernardo P. Carvalho já teve o trabalho reconhecido internacionalmente, nomeadamente em Itália e na Coreia do Sul.

É autor ou coautor de, entre outros, “Praia-Mar”, “Daqui ninguém passa!”, “Atlas das viagens e dos exploradores”, “Lá Fora”, “Um dia na praia” e “Trocoscópio”.