Começou como uma forma de divulgar as suas obras, com a primeira a ser pintada na ilha de Santo Antão, mas rapidamente o projeto de Joaquim Freire Semedo ganhou outros destinos, estando agora a homenagear músicos e artistas e a embelezar murais em Cabo Verde.
"Este projeto surgiu da necessidade de divulgar a nossa cultura, a cultura cabo-verdiana, e também dar a conhecer o meu trabalho, embelezar as nossas cidades, e levar a nossa cultura para outros cantos do mundo", descreveu o também modelo, de 36 anos, natural de São Lourenço dos Órgãos, interior da ilha de Santiago.
Denominado de "Viagens nas Tintas", o projeto já chegou a várias ilhas do arquipélago, estando neste momento a colorir um mural de dezenas de metros numa paragem de autocarros em Terra Branca, uma das zonas mais movimentadas da cidade da Praia.
E quem por lá passa, a pé ou de carro, pode apreciar pinturas de artistas de renome em Cabo Verde, como Cesária Évora, Ildo Lobo, Bana, Tito Paris, Orlando Pantera, Lura, Celina Pereira, Bitori de Nha Bibinha, Jorge Neto, Vadú, Mayra Andrade, Sara Tavares, Katchás, Luís Morais, Codé di Dona, entre muitos outros.
Nessa que é uma das partes mais emblemáticas e conhecidas do projeto, já figuram cerca de 30 artistas, mas Joaquim Semedo disse que o objetivo é chegar aos 60, já que não para de receber mensagens de felicitações e pedidos de familiares e amigos para pintar.
"Isso é bom e estou bastante satisfeito com isso", afirmou o artista plástico, residente na cidade da Praia, reafirmando que o interesse pelas viagens nas tintas está a ser enorme.
"Já fiz muita coisa e quero fazer muito mais", prometeu, antes de começar mais uma pintura, do falecido músico e compositor Fulgêncio Tavares, mais conhecido por Anu Nobu, natural do concelho de São Domingos, ilha de Santiago.
A vontade e motivação de Joaquim Semedo são muitas, que contrastam com os apoios, uma delas de uma empresa que oferece as tintas, mas que considera ser o necessário para não parar.
"Graças a Deus desde o início temos um patrocínio e parceria da Sita, que tem estado a ajudar bastante com as tintas e tenho muito a agradecer porque sem eles era difícil. Mas gostaria de ter apoio de câmaras municipais, do Ministério da Cultura ou de outras entidades", pediu, mas sem esquecer as ajudas que tem tido de amigos.
Além de Terra Branca, a arte de Joaquim Semedo já chegou a outros pontos da cidade da Praia e a praticamente todas as ilhas de Cabo Verde, bem como aos Estados Unidos e Portugal, quanto mais não seja porque um dos objetivos do projeto é a internacionalização.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o artista pintou um mural com Amílcar Cabral, tendo como fundo a bandeira de Cabo Verde. "O que é um orgulho porque estou a levar a cultura cabo-verdiana para outras partes do mundo. Isso é o maior orgulho a ter neste momento".
O foco do projeto é também embelezar ruas, casas e paisagens em Cabo Verde, que mesmo sendo rústicas são fontes de inspiração para o artista, mas precisam de mais brilho.
O que facilita bastante também é o clima em Cabo Verde, sem bastante chuva, nem frio. "Posso pintar na rua o ano todo", salientou Joaquim Semedo à Lusa, reconhecendo que não tem nada a reclamar, já que o seu trabalho está a ter muita divulgação.
"As pessoas estão a conhecer rapidamente o meu trabalho e isso é muito bom, mas o objetivo também é sensibilizar as pessoas em termos de arte e ver a arte em Cabo Verde de uma forma diferente, não só como uma coisa bonita, mas sim ver a arte como uma coisa divina", projetou.
O artista plástico faz todas as pinturas com a ajuda de 12 alunos, que fazem parte da escola "Viagens nas Tintas", que prevê ter mais do que 30 alunos dentro de dois meses.
"Este projeto não tem fim, e é por isso que tenho alunos, porque quem sabe em alguns anos posso não estar e vou ter pessoas preparadas para dar continuidade porque pintar Cabo Verde ou pintar o mundo em poucos anos não é fácil", afirmou.
Um desafio enfrentado pelo projeto foi a pandemia da covid-19, desde março de 2020 em Cabo Verde, o que fez Joaquim Semedo cancelar viagens que tinha programado para outros países, mas que quer retomar assim que possível.
Mas dentro do arquipélago não parou por causa disso. "Temos de nos adaptar a cada situação, a pandemia é um problema, mas tive de adaptar, tive bastante ideias, não tenho nada a reclamar, as coisas melhoraram ainda mais com esta pandemia. Temos de ser criativos", aconselhou.
Com pinturas ao ar livre, que divulga também nas redes sociais, outro desafio e preocupação vai ser a sua conservação, mas o mentor do projeto garantiu que usou o melhor material possível, para as gravuras durarem uns cinco a 10 anos.
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