A peça sobe à cena na quinta-feira, no Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), em Lisboa, com Luísa Cruz, Beatriz Batarda e Sara Carinhas, elenco que o encenador escolheu, pois há muito que queria trabalhar com estas atrizes.

Luísa Cruz, que faz a personagem da senhora, “é uma das mais fantásticas atrizes de teatro em Portugal” e, com Beatriz Batarda, já “tinha trabalhado há muitos anos, mas nunca com ela como protagonista”, contou.

Esta é a primeira vez que Marco Martins encena um texto “só trabalhado por personagens femininas”, sendo a cenografia de F. Ribeiro, os figurinos, de Adriana Molder, e o desenho de luz, de Nuno Meira.

“Nesta encenação são as próprias atrizes que criam o seu espaço cénico”, adiantou à Lusa Marco Martins, acrescentando: “O texto também nos fala disso mesmo, duas irmãs que todas as noites encenam a tentativa de matar a senhora, além do facto de as atrizes, elas próprias, terem também um percurso [paralelo ao da representação] como encenadoras”.

"Este é um texto de atores, ou seja, é uma descoberta do próprio ator que conduz à descoberta da própria personagem”, referiu.

Do ponto de vista cénico, “é um espaço muito claustrofóbico, criando um palco que é uma espécie de ringue, com quatro frentes em que o público está lado a lado com as atrizes”, disse o encenador.

Marco Martins afirmou que “esta encenação pedia uma tradução [para português] bastante contemporânea na forma de articulação da linguagem, principalmente neste contraste permanente que existe entre uma linguagem mais poética e uma menos poética, e daí ter pedido a Matilde Campilho, que nunca fez uma tradução para teatro, uma nova tradução do texto de Genet, que, em certos aspetos, é surpreendente pela sua oralidade, pela violência, e que torna certos termos mais aristocráticos da linguagem daqueles criadas em termos mais mundanos”.

A peça baseia-se num caso real, das irmãs Lapin que assassinaram a sua patroa e a filha, em Le Mans, França.

O caso que fez correr muita tinta, na década de 1930, sobre a qual escreveram vários intelectuais, entre os quais Jean-Paul Sartre, tendo a peça sido escrita por encomenda, por Jean Genet (1910-1986), quando esteve preso.

Marco Martins referiu-se ao texto do autor francês como “um clássico”, que é “sempre tentador de novas leituras”.

“Sendo um texto muito complexo, na sua forma e quer pela sua própria natureza e pela sua poética, torna-o inesgotável e muito apelativo, e daí o ter querido fazer”, disse.