“Um texto que não foi, até à data, apresentado, profissionalmente, em Portugal. Esta será, portanto, a sua estreia absoluta. É uma história simples, à escala humana, que assenta na urgência em existir”, refere o texto da programação, que é hoje apresentado pelo cenógrafo e programador Fernando Alvarez.

Nesta peça, que estará em cena até 28 de abril, como em muitos textos do dramaturgo, o discurso é construído como uma necessidade de comunicação para colmatar uma ausência, tema central de toda a obra de Lagarce, verificando-se um cuidado extremado com as palavras.

A história de “Últimos remorsos antes do esquecimento” passa-se numa casa de campo, onde Hélène, Paul e Pierre se reencontram anos depois de uma relação amorosa.

É domingo e os amigos encontram-se para decidir da venda da casa adquirida em conjunto, onde Pierre ainda vive sozinho.

As feridas e as mágoas regressam, e os amigos, incapazes de se entenderem, de se explicarem, dilaceram-se: a linguagem falha na tentativa de alcançar uma reconciliação.

Outro destaque da programação é a revisitação de “Oração” e “Dois Verdugos”, dois textos importantes na história da companhia, que remontam ainda ao período da censura, nos anos 1960.

Este espetáculo, original de Fernando Arrabal, com tradução de António Barahona da Fonseca e encenação original de Carlos Avilez, integra-se nas comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974.

Depois de se apresentar no TEC entre 25 e 28 de abril, o espetáculo parte em digressão, em 2025, rumo a Faro, Lagos e Oeiras.

Em maio, sobe à cena “A última prisão”, de Francisco Quintas, com encenação de Rodrigo Aleixo, obra vencedora da segunda edição do concurso para texto inédito de teatro jovem do TEC, que teve como tema a Liberdade, de forma a contribuir também para a celebração dos 50 anos da revolução.

“Comédias para todo o serviço” é o título do espetáculo programado para julho, que junta duas das mais emblemáticas peças do italiano Carlo Goldoni, “Criadas para todo o serviço” e “Arlequim, servidor de dois amos”.

Estes dois textos são exemplos representativos de uma dramaturgia que renovou a ‘commedia dell’ arte’ no século XVIII, período em que este género teatral apresentava já sinais de desgaste, reavivando-a com personagens vivas, pessoas do povo com as suas idiossincrasias linguísticas e com um novo tipo de comédia.

A estes clássicos, que mantêm a atualidade pela forma como caracterizam o ser humano na sua essência, foram acrescentadas “pequenas cenas trabalhadas para conceber uma linguagem metateatral de reflexão sobre o valor da arte e do próprio teatro”, acrescenta a programação.

Entre 13 de novembro e 15 de dezembro, o TEC apresenta, como última criação do ano, aquela que é considerada a obra-prima inaugural do teatro do absurdo, “À espera de Godot”, de Samuel Beckett, aqui com encenação de Flávia Gusmão.

Este espetáculo será bilingue e terá uma circulação internacional depois de se apresentar em Cascais, em 2025, no âmbito de uma parceria com o Ministério da Cultura do Uruguai, que prevê ainda deslocações a Galiza, Argentina, Brasil, Cuba, Cabo Verde.

O TEC vai também fazer um ‘casting’ para a personagem do Miúdo, nas escolas de Artes de cada local/país onde o espetáculo se apresentar.

Outras iniciativas previstas ao longo do ano são a nona edição da mostra_T, que acontece entre setembro e outubro e inclui oito produções, algumas estreias absolutas; mais uma edição do Festival de Teatro Entre Nós, em março; e o lançamento do livro “Cerco ao parlamento”, de Isabel Nery, em fevereiro.

No final do ano, serão apresentados na Academia Artes do Estoril, os espetáculos “S.O.S. aquela noite”, a partir da obra de Almada Negreiros, numa criação da Associação Sul, encenada por Ricardo Aibéo, em colaboração com a Universidade Nova de Lisboa; “Os rústicos”, de Carlo Goldoni, com encenação de José Peixoto.

Já em janeiro do próximo ano, o TEC apresenta “Amor é fogo que arde sem se ver”, uma produção do grupo A Barraca sobre a vida e obra de Luís Vaz de Camões, no seguimento do quinto centenário do nascimento do poeta, com dramaturgia e encenação dos diretores da companhia, Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra, um dos nomes fundadores do TEC, em 1965.