A Tinta-da-China começou a publicar em 2014, no Brasil, sob a designação “Tinta-da-China Brasil”, mantendo o design que a caracteriza e lançando autores portugueses desconhecidos do público brasileiro.

“Começámos com ‘O retorno’, de Dulce Maria Cardoso, de quem já publicámos ‘Os meus sentimentos’, e estamos neste momento a publicar os contos 'Tudo são histórias de amor’”, contou à agência Lusa Bárbara Bulhosa, diretora e fundadora da Tinta-da-China.

A Dulce Maria Cardoso, seguiu-se Alexandra Lucas Coelho e Ricardo Araújo Pereira, de quem foi feito um livro especificamente para o Brasil – “Se não entenderes eu conto de novo, pá” -, com um título “para se perceber que é uma seleção de textos humorísticos escritos por um português”.

Foram também publicados livros de Pedro Mexia, Almeida Faria, Pedro Rosa Mendes e uma seleção de entrevistas de Carlos Vaz Marques a autores portugueses, “para que o público brasileiro ficasse a conhecer um pouco melhor escritores portugueses na primeira pessoa”.

“Esse livro tem o título ‘As palavras não se afogam ao atravessar o Atlântico’, de propósito para fazermos esta ponte”, entre Portugal e o Brasil, disse Bárbara Bulhosa à Lusa.

Depois disto, a editora começou a publicar Fernando Pessoa, nas edições de Jerónimo Pizarro, “O livro do desassossego”, que esgotou, a “Obra completa de Álvaro de Campos” e, recentemente, “Como Fernando Pessoa pode mudar a sua vida”, que saiu primeiro no Brasil e só depois em Portugal.

No ano passado, a Tinta-da-China Brasil deu um novo passo e iniciou a coleção “grandes autores portugueses”, só para o Brasil, com a qual pretende levar, até àquele país, escritores clássicos, que considera “autores âncora”.

Os primeiros títulos editados foram “As causas da decadência dos povos peninsulares”, de Antero de Quental, e o “Breviário do Brasil”, de Agustina Bessa-Luís.

Nenhum destes escritores tinha sido publicado no Brasil. No entanto, como contou Bárbara Bulhosa, “as pessoas que leram o livro ficaram sideradas com a escrita da Agustina” e, em relação a Antero de Quental, uma professora de uma universidade do Rio de Janeiro comentou que “As causas da decadência dos povos peninsulares” era um texto que sempre tinha dado aos alunos, mas que só agora, finalmente, tinha o livro.

“O próprio Herberto Helder é pouco conhecido e de repente as pessoas vão ler Herberto”, disse a diretora da Tinta-da-China, para quem o fator surpresa também pesa na seleção que faz de autores.

“Não é só o facto de ser desconhecido, é surpreender o leitor quando o lê, como aconteceu com Agustina”.

Nessa linha, a Tinta-da-China vai publicar a obra completa de Herberto, depois de já ter publicado “Os passos em volta” e os “Poemas completos”, que foi considerado o livro do ano, este ano, pelos jornais Folha de São Paulo e Globo.

Do ensaísta Eduardo Lourenço, que já tem no Brasil “O labirinto da saudade”, sairá “Pessoa revisitado”, que “nunca foi publicado lá, e que considero um dos melhores ensaios escritos sobre Pessoa desde sempre”, e o resto da sua obra, acrescentou Bulhosa.

“Estamos a tentar publicar Sophia de Mello Breyner, que também não está disponível. Aliás, eu queria publicar a obra completa da Sophia. Estou à espera da autorização dos herdeiros. Interessa-me ter estes 'autores âncora', mesmo Alexandre O’Neil”.

“A minha atenção tem sido para aqueles autores que acho mesmo que tinham de estar no Brasil. Escrevemos a mesma língua, pensamos na mesma língua e, para mim, é totalmente absurdo que não estejam disponíveis autores tão importantes para quem quer perceber alguma coisa da portugalidade”, acrescentou.

A par da divulgação dos “autores âncora”, a Tinta-da-China continuará a publicar escritores portugueses contemporâneos, no Brasil.

Este ano, sairão livros de Rui Cardoso Martins e de Fernando Rosas – “sobre Salazar, porque não há nenhum livro sobre o Estado Novo escrito por um historiador português disponível no Brasil”.

“A minha ideia é também publicar Teresa Veiga e Paulo Varela Gomes”, contou Bárbara Bulhosa, acrescentando que nunca será um projeto para vender muitos livros ou para dar muito lucro, mas que “está a fazer falta”. E, pelo menos, a avaliar pela reação da imprensa e dos livreiros, tem sido uma ação “muito positiva”.

Em termos de vendas, “O livro do desassossego” vendeu dois mil exemplares, Dulce Maria Cardoso, também, e Ricardo Araújo Pereira também esgotou os dois mil livros, disse Bárbara Bulhosa, afirmando que a editora está a “vender mais” e que, se no ano passado publicou oito livros de autores portugueses no Brasil, este ano quer publicar dez.

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