No relatório e contas de 2015, hoje disponibilizado pela Casa da Música, pode ler-se que a instituição teve um prejuízo de 366,5 mil euros e que o valor acumulado de prejuízos – na ordem dos 3,4 milhões de euros – “evidencia, mais uma vez, a insustentabilidade do projeto da fundação, caso o Estado português mantenha os níveis de financiamento muito abaixo do estabelecido (…), como acontece desde 2011”.
O relatório e contas do ano passado sublinha que o resultado líquido negativo alcançado foi “conseguido mesmo com uma redução do valor de mecenato e patrocínio muito assinalável, já que foi apenas possível angariar 1.942.026 euros, o que significa uma redução de 84.859 euros, menos 4,2% face ao ano anterior”, e representa o valor mais baixo atingido nesta rubrica desde 2006.
No ano passado, o valor dos fundos constituídos pela Fundação Casa da Música era de 6,3 milhões de euros, mais 1,7% do que em 2014, embora o fundo de património fundacional tenha atingido também o seu valor mais baixo desde 2006.
Como refere o Conselho Fiscal, no seu parecer positivo às contas de 2015, o reforço deste fundo foi “utilizado para financiar o resultado líquido negativo do período”, salientando que “as necessidades de tesouraria da fundação serão superiores ao valor do resultado líquido, em virtude de este incluir verbas que não geraram, nem irão gerar qualquer fluxo de caixa”, o que significa que “a utilização do fundo não será suficiente para assegurar que as necessidades de tesouraria serão satisfeitas sem recurso a financiamento bancário ou sem recurso adicional aos fundos constituídos”.
Já no ano passado, o relatório e contas relativo a 2014, quando a Fundação Casa da Música obteve um prejuízo de 782,5 mil euros, frisava que “os resultados evidenciam que (…) a sustentabilidade do projeto artístico e educativo associado à Casa da Musica espera ainda o momento em que o Estado português possa gradualmente aumentar os níveis de financiamento (…), bem como um clima económico mais propício para que a sociedade civil, nomeadamente o tecido empresarial do país, retome o nível de vínculo e apoio à Casa da Musica”.
Desde 2011, pode ler-se no relatório e contas de 2015, que a Fundação Casa da Música se viu "impossibilitada de manter o nível de prestação de serviço público tal como vinha a fazer, obrigando a um ajustamento muito significativo na sua ambição”.
Na semana passada, depois de uma reunião do Conselho de Fundadores, na qual participou o ministro da Cultura, João Soares, o presidente do Conselho de Administração, José Amaral, disse aos jornalistas que “não existe um problema de viabilidade da Casa da Música, a Casa da Música vai prosseguir a sua atividade sem alterações substanciais”, procurando outras formas de financiamento, além do Orçamento do Estado.
O diretor artístico da instituição, António Jorge Pacheco, disse hoje, na conferência de imprensa de apresentação da programação até junho, que “ninguém pode dizer de boa-fé que a qualidade daquilo que se vê na Casa da Música [se] reduziu”, mas reconheceu que “um corte de três milhões ao ano tem impacto e consequências”.
Questionado sobre se a Casa da Música teria a capacidade para programar um artista como Kamasi Washington, que sobe ao palco da instituição no dia 06 de junho, num evento promovido pela Uguru, António Jorge Pacheco respondeu que “a Casa da Música não teria recursos para apresentar esse tipo de propostas” e que, face aos cortes, foi necessário “focar os recursos naquilo a que o mercado não pode dar resposta”.
Comentários