Inserido nos 20 anos das Comédias do Minho, que convidaram Filipa Francisco para desenvolver um projeto com as comunidades locais, “De volta às plantas” vai ter duas primeiras apresentações, sábado e domingo, na praia fluvial da Lenta, em Cerveira, com entrada gratuita.
Tendo como tema os próprios lugares, e a realizar às 19h00, o espetáculo vai acontecendo à medida que atores e população, que também interpreta, caminham ao mesmo tempo que, através das plantas, vão falando da existência destas desde o início do mundo, disse hoje à agência Lusa Filipa Francisco.
À medida que se vai percorrendo a distância, vão-se contando histórias que dão lugar a danças e celebrações, enquanto o púbico é envolvido e incitado a dar atenção à paisagem.
O processo de criação do espetáculo começou com o livro “A vida das plantas. Uma metafísica da mistura”, do filósofo e professor Emanuele Coccia, um ensaio que é “uma tentativa do autor de ressuscitar as ideias nascidas em cinco anos de contemplação da natureza, do seu silêncio, da sua aparente indiferença a tudo o que [se chama] cultura”, acrescentou Filipa Francisco.
Da obra, a coreógrafa retirou as bases para fazer perguntas aos intérpretes profissionais e não-profissionais do espetáculo, num regresso à natureza.
Os artistas vêm de diferentes áreas – teatro, dança e música -, porque Filipa Francisco queria “criar um espetáculo com estas diferentes disciplinas”.
“Uma das coisas mais importantes é também a participação dos artistas locais, dos participantes que vivem em Cerveira ou em Melgaço que fazem parte do grupo de teatro amador e que trabalham já há vários anos com as Comédias do Minho”, acrescentou.
Em Vila Nova de Cerveira e em Melgaço, o espetáculo conta com dois grupos de cocriadores e de pessoas dos respetivos municípios.
Apesar de terem partido de premissas comuns para a criação dos espetáculos, estes apresentam-se de forma diferente, uma vez que decorrem em lugares diferentes.
Em Vila Nova de Cerveira, privilegia-se a palavra e o canto, numa iniciativa conduzida por Rui Mendonça, Pedro Santos, Sílvia Pinto Ferreira e intérpretes da comunidade local, enquanto os espectadores caminham numa paisagem onde os sons do rio Minho se impõem.
Em Melgaço, dias 10 e 11 de junho, na Porta de Lamas de Mouro, numa paisagem que sofreu menos intervenção humana, o espetáculo é mais abstrato e sensorial.
Aqui, os espectadores serão conduzidos por Cheila Pereira, Mariana Tengner Barros, Tiago Candal e intérpretes da comunidade local.
Segundo um comunicado das Comédias do Minho, à pergunta "O que acha deste trabalho e como está a ser esta experiência?", Maria do Amparo Tábuas, uma das intérpretes não-profissionais de Melgaço, respondeu: “Tenho 70 anos e nunca tinha feito de planta - colocar no corpo um outro, ser um outro, colocar-me no lugar do outro."
“Transformar o corpo no outro” foi, segundo Filipa Francisco, o ponto de partida para o espetáculo, no caso transformar o corpo humano em plantas.
“De volta às plantas” é um espetáculo que pretende também compreender “de alguma forma a natureza que rodeia” o ser humano, daí que não seja de estranhar que, em vários momentos do percurso, haja momentos em que os corpos humanos de transformam em plantas, árvores e flores, com participantes que vão dos 6 aos 80 anos de idade, disse a criadora.
A diretora artística das Comédias do Minho, Magda Henriques, disse, citada no mesmo comunicado, que “as Comédias do Minho devem a sua origem à cooperação entre cinco municípios e devem a sua existência, desde 2003, aos laços criados entre as pessoas dessas comunidades”.
Com o espetáculo “De volta às plantas”, de Filipa Francisco, são também essas ligações de confiança que se pretende celebrar, segundo a diretora artística do espetáculo.
Os figurinos são de Eloísa d’Ascensão, o vídeo de Tiago Pereira e Abel Andrade, numa produção conjunta das Comédias do Minho e da estrutura dirigida por Filipa Francisco, Mundo em Reboliço.
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