Autor de vários estudos históricos e prospetivos sobre a Eurovisão, Jorge Mangorrinha reagiu hoje ao anúncio do cancelamento da edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção com “preocupação, pelo impacto nas indústrias que gravitam" à sua volta.
Contactado pela agência Lusa, o investigador ressalvou, contudo, que “o bem-estar das pessoas e a contenção do vírus [responsável pela pandemia da COVID-19] são a essência”.
Mas alertou para a possibilidade de "haver um impacto negativo a longo prazo, no cenário musical e no cenário das artes em geral", se o novo coronavírus não estiver contido nos próximos dois meses.
Num cenário de pandemia em que a organização optou por não fazer uma emissão digital, Mangorrinha espera que se realize uma emissão televisiva no dia 16 de maio (data em que deveria realizar-se o festival, em Roterdão, nos Países Baixos), “para celebrar a Eurovisão ao longo dos anos, algo para preencher a lacuna, incluindo uma mensagem de cada um dos países, e que traga um sorriso ao rosto de todos os fãs”.
A Eurovisão não deve entrar em quarentena, até à próxima edição, no que diz respeito a “ser um promotor da música, dos autores, dos intérpretes, de todos aqueles que dão e poderão dar vida ao espetáculo anual, nos diferentes países”, defendeu o investigador, considerando que aquele organismo “deve celebrar-se a si próprio e deve dar condições a um debate global acerca do papel da música na vida de cada um, e acerca da real importância do Festival Eurovisão da Canção”.
Um debate que reconhece ser “um desafio acrescido que pode mudar alguma coisa no futuro” do festival. Aliás, acrescenta, a edição de 2021, “já representa, desde hoje, uma expectativa acrescida, até porque ainda é cedo para saber os efeitos na economia europeia e global, designadamente, na capacidade futura das estações de televisão”.
Nesse sentido, Mangorrinha considera dever exigir-se à RTP, “estação pública paga por todos os portugueses”, uma reflexão “alargada a mais pessoas e não confinada a poucos consultores”.
Tanto mais que como organizadora do festival, a televisão pública, com exceção da vitória na edição de 2017, “tem obtido fracos resultados, a merecerem nova estratégia e talvez um outro formato”.
O Festival RTP da Canção deve ser “o epílogo, para o qual se deve fazer um esforço de qualidade”, porque ir à Eurovisão “não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas uma espécie de bónus, porque o que é verdadeiramente importante é dar futuro à música portuguesa”, disse Mangorrinha, concluindo que, “com raríssimas exceções, a Eurovisão por si mesma não faz uma carreira artística”.
A União Europeia de Radiodifusão, organizadora do Festival Eurovisão da Canção, anunciou hoje o cancelamento do evento que iria decorrer em maio, em Roterdão, nos Países Baixos.
Num comunicado divulgado nas redes sociais do evento, a organização justifica que a “incerteza gerada pela transmissão da doença Covid-19 pela Europa – e as restrições postas em prática pelos governos dos participantes e pelas autoridades holandesas – fez com que fosse tomada a difícil decisão de que é impossível continuar com o evento ao vivo como planeado”.
No mesmo comunicado, a organização refere que vão ser mantidas discussões entre todas as partes envolvidas, incluindo a cidade de Roterdão, sobre o local de acolhimento do evento em 2021.
A artista Elisa, com a canção “Medo de Sentir”, seria a representante de Portugal na Eurovisão 2020, depois de ter vencido a final da 54.ª edição do Festival da Canção, realizada em Elvas (Portalegre).
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