Ao 11º álbum, os rapazes de Los Angeles continuam a afastar-se da fama de brincalhões, demanda assumida no anterior I’m With You, assinando um conjunto de temas mais refinado e maduro, mas ainda assim afectado pela mesma inconsistência de sempre.
Numa carreira marcada por sucessos quase estratosféricos e tragédias dolorosas, os Red Hot Chili Peppers sempre prosseguiram o seu rumo com resiliência e honestidade, quaisquer que fossem as circunstâncias. Em 2009 deu-se um solavanco numa fase em que a banda parecia envelhecer estavelmente, com a saída de John Frusciante, por ventura a principal força criativa da banda à data. Perante a possibilidade de ceder à mediocridade e arranjar um substituto qualquer como desculpa para continuar a encher estádios com Californications e Under the Bridges, o conjunto optou ao invés disso lamber as feridas e seguir caminho, sendo The Getaway o produto dessa decisão.
Se a caminhada desta nova encarnação da banda, com Josh Klinghoffer na guitarra, começou com I’m With You, difícil e atabalhoada transição como que representando o processo de escolher o que trazer na trouxa e o que deixar para trás, The Getaway já representa a jornada em curso, sendo um álbum mais consistente e resoluto no seu propósito, com o quarteto devidamente entrosado a apostado a explorar a sua sonoridade. No entanto, talvez ao contrário do que seria esperado, esta não é uma viagem galhofeira e carefree. The Getaway não é, nem por sombra de dúvidas, um álbum depressivo, mas presta-se a uma certa introspecção que se enquadra bem nestes Red Hot Chili Peppers a passar a meia-idade.
A faixa-título e Dark Necessities, ambos singles de avanço, revelam uma banda confiante, sem medo de soar emocional ou tocar em temas difíceis ao mesmo tempo que experimenta arranjos de bom gosto, como os coros femininos da primeira ou as notas de piano espalhadas pela segunda. A atenção ao detalhe aqui demonstrada não é surpresa, já que o quarteto desta vez convidou o virtuoso Danger Mouse para produzir este álbum. A sua influência nota-se de imediato nesta coleção de temas, são mais perfumados, de texturas mais ricas e apontamentos instrumentais menos óbvios. As linhas de baixo de Flea aqui são utilizadas mais para enaltecer a emoção dos temas do que para servir como mero veículo dançável, Klinghoffer desdobra-se cada vez mais confortavelmente em várias funções, Chad Smith mantém a sua diligência de sempre atrás da bateria e Kiedis, não obstante as suas idiossincrasias polarizantes, assina aqui uma performance bastante convincente.
Não é que os Red Hot Chili Peppers tenham deixado o seu lado brincalhão de parte para este álbum, mas é quando se viram para ele que começam a perder o rumo e a cair nos vícios de sempre. We Turn Red desperdiça a sua excelente introdução num copy-paste mal construído de ideias já exploradas e letras vagamente políticas, Sick Love é estrategicamente colocada para encher chouriço no meio do álbum e Detroit tem Kiedis a apregoar que é tão doido quanto a cidade que dá nome à música, mas a forma não acompanha o conteúdo. Contudo, o irresistível charme pateta de Go Robot e a verdadeira vontade de rockar de This Ticonderoga mostram também que os RHCP ainda sabem como se faz.
Após um início forte (destaquemos também outro bom tema como Goodbye Angels) e uma secção intermédia de qualidade intermitente, The Getaway atinge um novo pico quando se aproxima do fim e volta a ceder à melancolia. Encore exulta escapismo sonhador, The Hunter tem Kiedis a cantar sobre o seu pai com uma genuína combinação de dor e afecto e Dreams of a Samurai começa com uma linha de baixo sub-reptícia, crescendo para um final apotético com coros e breaks de jazz. No fundo, The Getaway é um LP que recompensa a velha e paciente arte de repetir audições, revelando pormenores e encantos nas sucessivas tentativas. Para quem achava que os californianos estavam acabados, desengane-se, estão apenas diferentes.
7/10
Comentários