“O álbum, sobre o qual Amália se referiu como um dos seus melhores discos, foi gravado há 50 anos, e há muito estava esgotado no mercado”, disse.
“’Encontro’ surgiu na sequência das sessões do [álbum] ‘Fados’67’ e das sessões com o conjunto de guitarras de Raul Nery”, disse Frederico Santiago.
Referindo-se a “Encontro”, Frederico Santiago realçou que “este foi um dos primeiros álbuns de fusão de músicas diferentes”.
“A grande estrela ali é claro que é a Amália, até porque o Don Byas, inteligente como era, percebeu que o lugar dele, isto é, a maneira como faria aquilo mais certeiro, era ser um quinto acompanhador, até porque muitas daquelas músicas conheceu-as naquela tarde em gravaram. Mas há ali uns solos do Don Byas que soam lindamente”, acrescentou.
Nesta gravação “Amália está a cantar como poucas vezes, talvez quisesse impressionar o Don Byas, que era um músico de uma outra área, [do jazz], e ainda se entregou mais do que era normal”, afirmou Santiago.
O álbum foi gravado numa tarde, nos estúdios da Valentim de Carvalho em Paço de Arcos, por Hugo Ribeiro, e além de Amália Rodrigues (1920-1999) e Don Byas (1912-1972) participaram os músicos Raul Nery e Fontes Rocha, na guitarra portuguesa, Júlio Gomes, na viola, e Joel Pina, na viola-baixo.
A remasterização esteve a cargo de Nelson Carvalho, contando esta edição com um texto de Luiz Villas-Boas, que constava da edição original em LP, e ainda textos de Frederico Santiago, e um de contextualização de João Moreira dos Santos.
Moreira dos Santos conta a indecisão da fadista em editar o disco, pelo facto de incluir saxofone, tendo pesado a opinião dos guitarristas que terão dito: “ai, Amália, é um crime não deixar editar este disco. Vão fazer troça, é mais uma crítica, mais uma coisa… Não se importe, está tão bem cantado. Você nunca mais canta melhor do que isto, do que isto que cantou aqui”.
Amália, por seu turno, afirmou anos tarde: “E pronto, depois saiu e realmente é um dos grandes discos que eu tenho”.
Segundo Moreira dos Santos, “a comercialização do álbum veio dar razão a Amália, pois apesar de ser, assumidamente, um dos seus prediletos e de ter sido recebido favoravelmente pela imprensa, parece não ter agradado nem a gregos nem a troianos. De facto, se os fãs do fado não compreenderam bem a participação de Don Byas, os amadores de jazz lamentaram a falta de tempo que o saxofonista teve para ensaiar”.
Para este ano, Frederico Santiago projeta editar o álbum “Com que Voz”, gravado também há 50 anos, que vai incluir “coisas novas que foram encontradas, entretanto”, nomeadamente o inédito “Fui à Fonte Lavar os Cabelos”, poema do trovador João Soares Coelho, adaptado por Natália Correia e musicado por Alain Oulman, assim como as versões completas “Da Torre Mais Alta” e “Amêndoa Amarga”, de José Ary dos Santos e Oulman.
Na calha, sem datas ainda confirmadas, está o CD triplo “Amália em Paris”, que reunirá várias gravações inéditas ao vivo da fadista para a rádio francesa, assim como dois concertos no Olympia, em 1967 e em 1975, a reedição do disco “Amália/Vinicius”, a edição do espetáculo integral que deu origem ao LP “Amália no Canecão”, no Rio de Janeiro, e uma nova edição aumentada do álbum “Cantigas Numa Língua Antiga”, adiantou Frederico Santiago.
O responsável previa terminar a integral da discografia em 2020, quando se completam cem anos sobre o nascimento de Amália Rodrigues, mas neste momento acredita que o calendário de publicações deverá estar a meio no próximo ano.
“Quando começámos, em 2014, era previsto [terminar em 2020], mas apareceram tantas coisas que não se estava à espera, que eu acho que se calhar não vai estar tudo, mas pelo menos vamos estar a meio de uma edição integral, e com a certeza que ela vai acontecer”, justificou.
“A estruturação da edição da integral está feita, há essa certeza, e se não for em 2020, será em 2022, que terminaremos”, acrescentou, referindo que as reedições das gravações da fadista e edição de inéditos têm “corrigido muitos erros, alguns até por simpatia, quer de autorias, quer de acompanhadores”.
O álbum é constituído por 12 temas: “Povo que Lavas no Rio”, “Solidão”, “Estranha Forma de Vida”, “Libertação”, “Cansaço”, “Rua do Capelão”, “Ai Mouraria”, “Não É Desgraça Ser Pobre”, “Coimbra”, “Lisboa Antiga”, “Há Festa na Mouraria” e “Maldição”.
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