João de Melo declara, à agência Lusa, que o leitor de "Livro de Vozes e Sombras", com chancela da Dom Quixote, vai ser confrontado com os Açores durante o “período de agitação e aclamação da independência” pela Frente de Libertação dos Açores (FLA), com uma colónia africana em que se assiste “ao fim da guerra e à entrega do território, a par da história de uma família que retorna”, revisitando-se ainda os dias do Período Revolucionário Em Curso (PREC) em Lisboa.

Para o autor de “Gente Feliz com Lágrimas”, nascido na Achadinha, nos Açores, que escolheu como personagem principal do seu trigésimo livro uma jornalista, os portugueses “esquecem muito facilmente não apenas a sua história antiga mas também contemporânea”, ou “então lembram as coisas apenas pelo lado positivo, épico e heroico”, quando “afinal também existem muitas tragédias, misérias”.

O escritor frisa que este livro "visita este recanto obscuro da portugalidade, que é omissa relativamente às suas tragédias e muito exuberante na proclamação heroica das suas vitórias”, havendo com esta obra um objetivo de “natureza política e cultural, mas que não é histórica”.

João de Melo admite uma vertente pedagógica que visa as que designa por “gerações seguintes”, que “nada sabem e nada [lhes] é facultado”, com responsabilidades para a sua geração, que “não soube passar as vivências e a memória de tudo o que viveu”.

Para o autor, esta história é contada não de forma política, havendo “coisas que para passarem de uma geração para a seguinte só a literatura as pode dizer”.

Foi elaborada uma ficção que é “ao mesmo tempo verdadeira e imaginária” num “jogo que conta com a cumplicidade do leitor, porque há muitos saltos na narrativa que este facilmente vai preencher”.

No romance, que chega às livrarias no final do mês, a jornalista e protagonista chama-se Cláudia Lourenço, sendo enviada de Lisboa à ilha de São Miguel ao serviço do periódico Quotidiano para entrevistar um conhecido ex-operacional da FLA e reaver a crónica do independentismo insular durante a revolução.

João de Melo já venceu vários prémios literários, como o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, Prémio Eça de Queiroz/Cidade de Lisboa, Prémio Cristóvão Colombo (Capitais Ibero-americanas), Prémio Fernando Namora, Prémio Antena 1, Prémio “A Balada” e Prémio Dinis da Luz, tendo em 2016, sido distinguido pela Universidade de Évora com o Prémio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra.

É Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada e Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique, tendo sido agraciado com a Medalha de Mérito Cívico pela Assembleia Regional dos Açores, com a Medalha de Mérito Municipal pela Câmara Municipal do Nordeste e como Cidadão Honorário deste concelho açoriano.

Em 2019, O Ministério da Cultura atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Cultural.