Em declarações à Lusa, a propósito da inauguração esta tarde da mostra “Azul e ouro: Esmaltes em Portugal da Época Medieval à Época Moderna”, a comissária da exposição, Ana Paula Machado, salientou a “beleza, o pormenor e a técnica” das peças expostas, produzidas entre os séculos XII e XIX, sobretudo nas oficinas da região francesa de Limoges.
Como “peças de destaque” daquela que o museu refere ser a primeira exposição em Portugal dedicada em exclusivo ao esmalte artístico, a comissária destacou a série de 26 placas de esmalte pintado no século XVI, proveniente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, o tríptico da Paixão de Cristo, do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, e dois cofres da Sé de Viseu, datados do século XIII.
“A aplicação de esmalte, que é feita essencialmente em objetos religiosos, devocionais, de aparato, mas também em ourivesaria, tem duas fases. A primeira, de esmalte ‘champlevé’ e a segunda de esmalte pintado”, apontou.
O esmalte ‘champlevé’ produziu-se em Limoges, de meados do século XII até ao final do século XIV, e “ao contrário do que se pode pensar, teve uma rápida difusão pela Europa”.
Segundo o museu nacional, “a distribuição imensa de objetos terá sido facilitada pelas rotas de peregrinação de Santiago e Saint Martial de Limoges, pela presença de comerciantes nas feiras de Champanhe e pelas rotas de comércio marítimas, mas também pelas densas redes de relações entre as famílias régias e nobres europeias e entre comunidades monásticas”.
O esmalte pintado fabricou-se na mesma região a partir do século XV, dando origem a “alguns dos mais requintados e icónicos objetos” da arte do Renascimento francês.
“As peças em esmalte refletem a história do gosto europeu ao refletirem a época em que são produzidas e a própria História do esmalte reflete a história da Europa”, salientou Ana Paula Machado.
Além de peças ornamentadas com aquelas técnicas, a exposição conta com peças representativas de outras técnicas de esmaltagem, de “singularidade técnica” e preponderantes nas coleções portuguesas, usadas na ourivesaria portuguesa dos séculos XV a XVII.
“Azul e ouro” leva ao Porto peças produzidas entre os séculos XII e XIX, “vários tesouros nacionais” de coleções portuguesas e internacionais, pretendendo o catálogo da exposição “fazer memória de carismáticas coleções portuguesas de esmaltes”, como a coleção de Fernando II, a coleção Palmela e a coleção do Conde Daupias, hoje dispersas por museus como o Metropolitan de Nova Iorque, o Victoria & Albert, em Londres, a Grune Gewölbe, em Dresden, ou o Petit Palais, em Paris.
O Museu Nacional de Soares dos Reis abre as portas desta mostra ao público em geral esta noite, das 20h00 às 22h00, e de terça a domingo das 10h00 às 18h00, até ao dia 31 de outubro.
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