Depois de dois anos de paragem forçada devido à pandemia de COVID-19, no fim de semana de 23 e 24 de julho, os festivaleiros voltam a juntar-se aos cerca de 50 habitantes da aldeia transfronteiriça, que partilha o quotidiano com a gémea espanhola Rihonor de Castilla.

Um grupo de jovens com ligação à aldeia criou a associação Montes de Festa e lançou o Festival D´ONOR, que vai na quarta edição, para dinamizar e divulgar o património e tradições desta aldeia considerada uma das sete maravilhas de Portugal.

O modo de vida de entreajuda e partilha, entre os habitantes dos dois lados da raia, valeu-lhe o estatuto de aldeia comunitária, com um sistema próprio de justiça, que tinha no Conselho do Povo o órgão máximo de decisão e punição.

O festival arranca com a recriação do Conselho, como contou à Lusa David Vaz, da organização, em que “os festivaleiros são convidados a ajudar as gentes de Rio de Onor num acessível trabalho comunitário”.

Trata-se de “um momento que se quer de plena união entre quem visita e quem vive a aldeia” que voltará a ouvir “o saudoso tocar ao conselho”, no campanário da Igreja Matriz”, a chamar para a reunião nas amoreiras junto à ponte antiga.

O que ficar decidido é para ser cumprido e quem falhar vai estar a contas com a “vara da justiça”, um pau onde são inscritas as infrações que merecerão o devido castigo por parte do Conselho.

O rosto destas tradições, Ti Mariano Preto, desapareceu há alguns meses e ficará eternizado nas Recolhas Musicais da Tradição Oral, um trabalho da editora Sons da Terra, numa iniciativa da Casa da Portela – Turismo Rural que registou também interpretações da tradição oral de outra habitante, Tia Diolinda do Campo.

O festival é feito, sobretudo, “de experiências” com música de identidade tradicional e, nesta edição, além dos habituais concertos junta-se a iniciativa “Músicas no Rio”, que reunirá projetos musicais e intérpretes do distrito de Bragança, junto à Ponte Antiga de Rio de Onor, ao lado do lavadouro e da forja comunitária.

Gil Miranda, Fernando Ferndandes, Lá Crau e Charango reavivam temas do cancioneiro tradicional, não só português, mas também espanhol, e da música que marcou gerações a fio, explicou David Vaz.

Os cabeça de cartaz no palco principal são a banda folk SEIVA baseada na música da tradição oral portuguesa, e OMIRI, um projeto descrito como “um autêntico desafio para reinventar a tradição musical”.

Cumprindo a tradição, durante o festival há “Ronda Cultural e das Adegas”, com os gaiteiros da Associação da aldeia e festivaleiros de porta em porta, e o “Baile do Gaiteiro”, uma recriação dos antigos bailes que se realizavam ao som da gaita-de-foles.

O segundo dia começa com um passeio interpretativo pela Natureza, no “percurso do carvalho”, que permitirá aos participantes observar a paisagem em torno da aldeia e “o maior exemplar de Carvalho Negral da Europa, com 23 metros de altura e cerca de 20 metros de copa”.

Serão cerca de sete quilómetros acompanhados pelo biólogo Paulo Mafra e com o apoio da Associação de Caminheiros Enzonas de Bragança.

A tarde será ocupada na aldeia com o tradicional “jogo da raiola”, com que se ocupavam antigamente os tempos livres, e em que, quem perder na pontaria de acertar com uma moeda num traço riscado no chão, paga a rodada seguinte na taberna.

A iniciativa é desenvolvida pela Associação de Jogos Populares do Distrito de Bragança. A igreja matriz de Rio de Onor, onde atua o Coral Brigantino, será também palco do festival, que termina com “uma Visita ao Passado Comunitário de Rio de Onor, um momento surpresa dedicado aos habitantes da aldeia.