Orlando Barreto, ou Pantera, teve um desaparecimento prematuro, em 2001, com apenas 33 anos – mas não sem antes deixar um belo espólio musical marcado pelos costumes e pela cultura da sua terra, Cabo Verde. Não é a primeira vez que a companhia une forças com as músicas de Pantera, que colaborou com o grupo nos anos 1990.

Em entrevista ao SAPO Mag, Clara Andermatt e João Lucas ressaltam a importância da música e do legado de Pantera, o mundo de Cabo Verde que ele trazia nas suas canções e os trabalhos de coreografia e canto no espetáculo atual.

Música e diversidade

"Orlando Pantera era um artista multifacetado, com uma extraordinária capacidade de incorporar estilos e influências. O chamado 'fidju di terra' (filho da terra), no sentido em que amava o seu povo e as suas raízes e colocava-os com muita perspicácia, humor e inteligência nas suas canções", descreve a dupla.

"Ele era também um homem provido de enorme empatia e sentido de humor, cativando facilmente todos os que o rodeavam. Tocava vários instrumentos, que aprendeu de forma praticamente autodidata, encontrando sonoridades, ritmos, variações pouco comuns para alguém com pouca formação", assinala.

Pantera

Cabo Verde: o povo e a cultura

"Pantera musicava os homens e mulheres do campo, o amor e suas desilusões. Génio de sensibilidade extrema e força criativa intensa, inovador e autêntico, criador de um mundo poético belíssimo, excelente compositor de canções. Na sua voz pulsava Cabo Verde em toda a sua cultura, os locais, as paisagens, as vivências, a seca e a vida do camponês, o riso e as histórias de amor", referem Clara Andermatt e João Lucas ao SAPO Mag.

Cabo Verde: as danças e as sonoridades

"Não quisemos fazer um espetáculo apenas de música do Pantera, tampouco ilustrar a dança com a sua música. Esta estará fortemente representada de uma forma vívida e apropriada por nós, os artistas desta criação. Algumas são reproduzidas tal como foram compostas, outras utilizadas como novos materiais, digeridas, transformadas, expandidas", avançam.

"Daí resulta uma apropriação que transforma as palavras de Orlando Pantera em dramaturgia, a sua música em propulsão performativa e as suas raízes artísticas em matrizes de estilização das danças e das sonoridades de Cabo Verde - nomeadamente as formas originárias de sua ilha natal de Santiago, como o Batuko, a Tabanka, o Finaçon e o Funáná".