O músico entra, assim, no mundo da música eletrónica, algo, no seu entender, que representa “um universo ilimitado”.

“O único limite neste caso é o computador (a capacidade do processador) e a imaginação e criatividade de quem está a utilizar. Ou seja, não há propriamente uma barreira palpável em relação a possibilidades tímbricas”, ao contrário do contrabaixo, “um instrumento bastante limitado timbricamente”, disse, em declarações à agência Lusa.

Foi a pensar nisso que, em “The Great Square of Pegasus”, o músico acabou por “deixar um bocado o contrabaixo de lado” e tentou “explorar outros processos de fazer música”.

Com uma carreira iniciada no jazz, foi em Copenhaga, onde esteve a estudar, que teve contacto com a eletrónica e “o processo de fazer esse tipo de música”, que é “muito diferente” daquele a que estava habituado.

“Durante os dois anos do mestrado usei esses meus colegas, os professores e esse conhecimento todo que adquiri lá com a tese para começar a trabalhar nisto. Há um ano e meio, dois anos, comecei a levar isto mais a sério”, contou.

No entanto, a música que pensou “fazer para este disco não era inteiramente eletrónica”.

“Eu podia ter feito uma coisa só com sintetizadores e computador e estava tudo bem, mas achei mais interessante, pelo menos agora, misturar elementos acústicos com isso e não há instrumento mais acústico do que a voz”, explicou, a propósito da participação dos músicos Afonso Cabral e Pedro Branco em “The Great Square of Pegasus”.

O título que resolveu dar ao álbum tem duas explicações, uma ligada ao universo da eletrónica e outra mais pessoal.

O músico recordou que os “filmes de ficção científica ou de coisas mais fora da atmosfera têm quase sempre música eletrónica, música minimal”. “Mas eu acho que isso tem que ver com o período em que esses filmes começaram a ser feitos, que é o mesmo em que se começou a explorar mais a música eletrónica, nos anos 1970 e 80”, referiu.

Além disso, quando era mais novo, João Hasselberg sonhava ser astrofísico. E, por isso, “houve uma altura em que quando olhava para o céu já não via só um céu bonito estrelado e conseguia decompor o céu em milhentas partes diferentes, seja constelações ou perceber o que é um planeta, uma estrela, uma galáxia”.

“Conseguir decifrar o que se estava a passar tirou um bocado a magia de gostar de olhar para o céu. Há dois anos percebi que não queria nada que isso me acontecesse com a música”, partilhou.

Ou seja, o músico não quis dar por si “a pensar tecnicamente o que é” de cada vez que ouve música.

“Se eu quiser, consigo. Mas também quero conseguir desligar isso e quero conseguir manter esse botão desligado sempre que eu quiser. Então este disco é um pouco uma homenagem a isso também”, referiu, explicando que “a forma como a música foi feita é música super ‘naïf’, nada pensada”.

A composição dos temas incluídos em “The Great Square of Pegasus” “partiu do processo de criação em si, de utilização dos instrumentos”.

“Não foi a composição é esta e agora vamos fazer um arranjo ou a orquestração vai ser x ou y. É música muito empírica, se é que posso dizer isto”, afirmou.

Esta incursão pela música eletrónica será para continuar, João Hasselberg só não sabe “se exatamente nestes moldes”.

“Eu gostava de experimentar também, eventualmente, com outros cantores, outros instrumentistas, outras formações. Gostava de fazer o mesmo projeto, de música eletrónica, mas com coro em vez de ser só o Afonso e o Pedro, não sei, mas é para continuar, sem dúvida”, revelou.

O álbum, que é apresentado ao vivo a 13 de dezembro em Évora, na Igreja de São Vicente, é editado no domingo em formato digital e CD, estando prevista para 2020 uma edição em vinil.

Além disso, está já agendada uma atuação do projeto no festival de música eletrónica Supernova, em Colónia, na Alemanha, em janeiro.