Baseada na obra homónima do escritor checo Bohumil Hrabal, a peça resulta da tradução e encenação do ator João Lagarto, que também a protagoniza, encarnando a personagem do sapateiro Jyrca, narrador da novela que, a um ritmo alucinante, vai contando histórias de gente real, ao mesmo tempo que discorre sobre quase um século de história da Europa Central.

A ação passa-se em Praga, num "bar de meninas" (Tigre de Ouro) muito frequentado por Hrabal, onde o sapateiro Jyrca vai aproveitando para dar conselhos sexuais às raparigas do seu tempo.

A vivência pessoal e histórica do escritor checo - do império austro-húngaro ao comunismo de Estaline, as duas Grandes Guerras e a ascensão do nazismo na Europa, com a subida de Hitler ao poder - são o pano de fundo desta peça tal como na obra homónima de Hrabal, publicada em 1964, e escrita com um único ponto final.

"Esta é uma história muito engraçada de Hrabal, um escritor fabuloso que começou a viver da escrita muito tarde, que teve imensas profissões e que nos põe, de forma séria, mas também com um imaginário próximo do realismo mágico sul-americano, perante a voragem de um século de história da Europa Central", disse João Lagarto à agência Lusa.

Nesta peça, em que não há qualquer alusão direta à dança, a única personagem vai contando histórias de gente que Hrabal conheceu e com quem conviveu, ao mesmo tempo que vai deixando conselhos para as senhoras do seu tempo.

Não é por isso de estranhar que, em "Lições de dança para pessoas de uma certa idade", se fale de culpa, de comida e bebida, da cupidez dos padres, do desejo por mulheres, de infância e masturbação, de barbaridades do casamento ou da estupidez da guerra.

Hrabal acaba assim por usar Jyrca para narrar as histórias reais que viveu, quando era frequentador assíduo de bares em Praga, acrescentou João Lagarto.

"Lições de dança para pessoas de uma certa idade" é uma peça que João Lagarto estreou há quase dois anos, em Lamego, e com a qual tem andado em digressão por várias localidades da província. De Arcos de Valdevez, a Alverca ou Almodôvar, nomeadamente.

Questionado pela Lusa sobre o porquê de ter optado por levar esta peça a localidades mais pequenas, o ator e encenador confessou que "adora" fazer teatro na província.

"Porque a recetividade e o encantamento do público são maiores", frisou.

"Até ao momento não a fiz em salas de grandes cidades, não só por não ter tido patrocinadores, mas, sobretudo, porque não os procurei", explicou.

A peça chega agora à sala Estúdio do Trindade - onde estará em cena até 15 de julho, com espetáculos de quarta-feira a sábado, às 21:45, e, aos domingos, às 17:00 - por sugestão do ator ao diretor artístico deste teatro, que aceitou a sugestão, e "fez questão que estivesse em cena durante um mês", observou.

Com desenho de luz de José Carlos Gomes, produção de Alice Prata e operação de luz e som de Cárin Geada, "Lições de dança para pessoas de uma certa idade" é uma coprodução da Câmara Municipal de Almodôvar e Casa de Artes de Arcos de Valdevez, com apoio à digressão da Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA).

Bohumil Hrabal nasceu em Brno, então província de Moravia, no império austro-húngaro, em março de 1914, e morreu em Praga, em fevereiro de 1997.

O escritor estudou Direito, em Praga, onde exerceu diversas profissões, entre as quais ferroviário, empregado de notário, marçano, angariador de seguros, figurante de teatro.

Publicou a primeira obra, "Uma pérola no fundo", em 1963, tendo de imediato sido considerado pela crítica literária como um dos grandes escritores checos do século XX, na senda de Franz Kafka e de Jaroslav Hasek, o criador do soldado Shveik.

A obra de Bohumil Hrabal foi proibida na Checoslováquia, após a invasão deste país pelas tropas do Pacto de Varsóvia, após a Primavera de Praga, em 1968, voltando a ser permitida em 1976.

"Comboios rigorosamente vigiados" (Óscar de melhor filme estrangeiro) e "Eu que servi o rei de Inglaterra", com adaptações ao cinema do realizador checo Jirí Menzel, são das obras mais conhecidas de Hrabal e estão publicadas em Portugal, à semelhança de "Uma solidão demasiado ruidosa", "Terno bárbaro" e "A terra onde o tempo parou".

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