Joel Pina, viola baixo do fado, que acompanhou gerações de cantores ao longo de cem anos de vida, morreu na quinta-feira, em Cascais, a poucos dias de completar 101 anos.

"Modelo de dedicação e inventividade, com aquela tão rara qualidade de quem sabe criar novo com profundo respeito pelo antigo, tão bem conhecido", Joel Pina é "um dos marcos do Fado, símbolo maior desta comunidade (...), aquele intérprete que, por amar o Fado, tanto acompanhava o mais jovem intérprete, que nunca deixou de apoiar e ensinar, como o cantor já há muitos anos celebrado", escreve Graça Fonseca.

Com "uma carreira de muitas décadas, Joel Pina foi intérprete querido e mestre de muitos, mas sempre se deixou inspirar também pelos mais novos, procurando aprender, desafiando-se e tornando extensão natural do seu corpo a viola baixo com que tantos acompanhou, como Carlos do Carmo, Celeste Rodrigues, Teresa Silva Carvalho, João Braga, Cristina Branco ou Ricardo Ribeiro, entre muitos outros", recorda a ministra.

JOEL PINA
JOEL PINA

Natural do Rosmaninhal, Idanha-a-Nova, onde nasceu em 1920, "a vida de Joel Pina confunde-se com a História do Fado, como um dos seus mais virtuosos intérpretes e como inovador que ajudou a definir novos rumos". "Em seis décadas de percurso profissional acompanhou e tocou com os mais importantes nomes do Fado, desde as longas parcerias com Maria Teresa Noronha e, mais tarde, com Amália Rodrigues", nomes aos quais acrescentou "a participação em discos e espetáculos de fadistas de todas as gerações que, ao longo do seu percurso inolvidável, foram surgindo", lê-se na nota de pesar assinada pela ministra da Cultura.

Graça Fonseca recorda ainda Joel Pina como "uma das figuras de destaque da cultura portuguesa" e o seu "percurso amplamente premiado", nomeadamente com a Medalha de Mérito Cultural do Estado português, que recebeu em 1992, "pelo seu trabalho e por representar uma parte tão significativa da memória do Fado".

"O Fado perde uma das suas maiores referências, mas também alguém que deixou exemplo e inspiração e que, por isso, terá sempre um lugar no pensamento daqueles que, com ele, tanto aprenderam ou, simplesmente, se encantaram. Joel Pina será recordado como o que sempre trouxe na sua memória, e nos seus dedos, a memória do Fado", escreve Graça Fonseca.

A ministra da Cultura recorda ainda o concerto de homenagem a Joel Pina, realizado no dia 24 de setembro do ano passado, no Teatro S. Luiz, em Lisboa, onde comemorou os seus 100 anos de vida.

"O mestre Joel Pina acompanhou instrumentistas e cantores de diferentes gerações, como fez ao longo da vida. Impressionou a sua destreza própria de um jovem e emocionou ao receber o carinho de tantos que ali fizeram questão de estar, apesar das circunstâncias. Nessa noite, destacou-se presença, a força e a importância que o 'mestre da viola baixo' imprimiu ao nosso Fado. Aos 100 anos, o jovem Joel Pina tocava para novos e velhos, famosos e desconhecidos, com uma rara simpatia e delicadeza e um profundo amor pelo Fado que nunca abandonou", lê-se.

O músico Joel Pina morreu na quinta-feira, em Cascais, onde se encontrava hospitalizado, a poucos dias de completar 101 anos.

Joel Pina era o nome artístico de João Manuel de Pina, nascido a 17 de fevereiro de 1920, músico que acompanhou Amália Rodrigues durante mais de 30 anos, assim como vários intérpretes portugueses e diferentes gerações do fado, de Maria Teresa de Noronha, a Teresa Tarouca, Max e Tristão da Silva, sem esquecer Nuno da Câmara Pereira, João Braga e Camané.

Fez parte do Quarteto Típico de Guitarras de Martinho d'Assunção e do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, entre outros agrupamentos chave da história do Fado.

O concerto de homenagem, em setembro do ano passado, contou com participações de fadistas como Maria da Fé, Mariza, Gonçalo Salgueiro, Mísia, Teresa Siqueira e Lenita Gentil.