"Sempre que se abre uma porta, fecha-se outra vez": convidada na terça-feira num festival de cinema em Nova Iorque, Judith Godrèche, uma figura-chave no movimento #MeToo da França, comparou a denúncia da violência sexual a um ciclo constante de repetição, lamentando o "silêncio assustador" dos políticos sobre o tema.

"Na França, sempre que se abre uma porta e há um avanço, ela fecha-se e é preciso continuar, continuar, continuar", disse a atriz e realizadora, que apresentou a sua curta-metragem "Me Too" no festival "Rendez-vous con Cinema Frances".

"Dá a sensação que temor de recomeçar tudo de novo. Porque, no fim de contas, estamos a lutar contra o patriarcado, e estamos a lutar contra o poder", continuou, enquanto respondia no evento a perguntas da atriz norte-americana Cynthia Nixon, a famosa Miranda da série "O Sexo e a Cidade", conhecida pelo seu ativismo de esquerda.

"O problema é que as pessoas que continuam a lutar acabam no chão, completamente exaustas", acrescentou Judith Godrèche, que falou em inglês.

A atriz causou sensação na França no início de 2024 ao acusar o cineasta Benoît Jacquot de violação e a seguir Jacques Doillon de agressão sexual, por atos que datam da sua adolescência.

O primeiro, que teve um relacionamento com Judith Godrèche quando ela tinha 14 anos e ele 25, foi indiciado no verão de 2024 pela violação de outras duas atrizes, Julia Roy e Isild Le Besco.

"A resposta política é um silêncio assustador"

"Sempre que há um escândalo, aparece nas notícias e a resposta política é um silêncio assustador", salientou.

Na sua curta-metragem, que conta com a participação da filha Tess Barthélémy, Judith Godrèche reuniu centenas de pessoas anónimas e vítimas de violência sexual que lhe escreveram depois que ter quebrado o silêncio.

"Sendo um ícone, sinto que também é perigoso porque as pessoas dizem a si mesmas - é ela. Não, não sou eu, é a sociedade, são todos os outros", enfatizou. "Tem de se explicar sempre que sou apenas uma pessoa entre um grande número de vítimas."