A imagem, captada a 9 de março de 2022, de uma mulher grávida a ser transportada numa maca, após o ataque a uma maternidade em Mariupol, na Ucrânia, pelo fotojornalista ucraniano Evgeniy Maloletka, da agência de notícias Associated Press, é uma das 45 imagens que compõem a mostra “Ucrânia: Um crime de guerra”, de entrada gratuita, que é inaugurada no sábado no espaço Narrativa.

Evgeniy Maloletka recordou, em declarações à agência Lusa por telefone, que aquela imagem, e outras captadas na mesma ocasião, serviram para desmentir a justificação inicial dada pelas autoridades russas para terem atacado uma maternidade.

“Primeiro, as autoridades russas alegaram que o hospital estava ocupado pelo exército ucraniano e que não havia mulheres grávidas. E quando chegámos, depois do bombardeamento, vimos as pessoas lá. Não havia soldados, havia mulheres grávidas, crianças, famílias que tinham procurado abrigo, profissionais de saúde, que tinham lá as suas famílias também, porque era muito perigoso fazer deslocações na cidade”, lembrou.

Ou seja, Evgeniy Maloletka e outros jornalistas viram “algo completamente diferente daquilo que a Rússia dizia”, desmontando assim “uma completa mentira da propaganda” russa.

O fotógrafo acredita que este caso específico reforçou a importância do jornalismo: “Quando vemos com os nossos próprios olhos o que está a acontecer ali”.

Evgeny Maloletka recordou que Iryna Kalinina, de 32 anos, acabou por morrer, pouco depois do parto do bebé, “que nasceu morto”.

“Soubemos disso depois, no dia 11, quando chegámos ao hospital e encontrámos os médicos que a acompanharam”, contou.

O atentado à maternidade de Mariupol é uma das histórias sobre vários acontecimentos naquela cidade ucraniana que valeu a uma equipa da Associated Press, que inclui Evgeny Maloletka, o Prémio Pulitzer em Serviço Público de 2023.

A exposição “Ucrânia: Um crime de guerra” inclui trabalhos de outros premiados com o World Press Photo, como Daniel Berehulak, Fábio Bucciarelli, Ron Haviv, David Guttenfelder e Finn Bar O’Rilley, e de uma premiada com quatro Pulitzer, Carol Guzy.

“As fotografias patentes são a prova do que muitos ucranianos sofrem, debruçando-se sobre os diferentes aspetos da guerra, ao longo de todo o território, de modo a traçar um retrato abrangente da destruição, do número de civis afetados pelo conflito e dos crimes cometidos em solo ucraniano”, destaca a Narrativa no texto de apresentação da mostra, que nasceu a partir de um livro, “Ukraine: A war crime”, da editora FotoEvidence, que reúne imagens captadas por 93 fotojornalistas de 23 países.

A inauguração de “Ucrânia: Um crime de guerra”, marcada das 17:00 de sábado, conta com a presença da fotógrafa ucraniana Oksana Parafeniuk, integrada na mostra e que deixou de fotografar o conflito quando foi mãe.

O espaço Narrativa foi inaugurado em abril do ano passado, no n.º60 da Rua Professor Gama Barros, na zona da Avenida de Roma, em Lisboa, com o objetivo de ser um “ponto de encontro da Fotografia em Lisboa”.

A Rússia invadiu a Ucrânia alegando que era para “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho, de acordo com os objetivos anunciados por Putin no dia do início da operação, em 24 de fevereiro de 2022.

O conflito mergulhou a Europa naquela que é considerada como a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Desconhece-se o número de baixas civis e militares, mas diversas fontes, incluindo a ONU, têm admitido que será elevado.