A amizade do poeta Manuel António Pina e do historiador Germano Silva é o mote da exposição de abertura da Feira do Livro do Porto, que explora as relações entre jornalismo, a história local e a visão de cidade.
Com curadoria de Jorge Sobrado e Rita Roque, “Pina Germano” apresenta uma viagem de 40 anos a partir de memórias, epístolas, cartas, fotografias, edições inéditas, vídeos testemunhais e instalações plásticas, traçando um retrato da relação de amizade entre os dois jornalistas.
“Manuel António Pina é muito conhecido pela sua faceta de poeta e de cronista, mas esta exposição é uma breve viagem que permite também entrar de alguma forma na intimidade do homem, revelando detalhes que são menos conhecidos do público, por exemplo, o facto de ter sido xadrezista federado, de ter aliás uma sedução pela experiência do jogo, da sorte”, disse o também diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, Jorge Sobrado.
Explorando as relações entre os dois universos e uma visão de cidade, “Pina Germano” permite ainda explorar a relação do poeta com a cidade do Porto, que influenciou o poeta e sua obra.
A exposição, que faz um “mapeamento” da amizade de Manuel António Pina e Germano Silva, tem como peça central uma instalação que replica uma pintura da artista plástica Joana Rego, na qual o poeta se inspirou para escrever o poema “Como se desenha uma Casa”.
A casa, explicou Jorge Sobrado, confere uma unidade e um sentido a um conjunto muito variado de fragmentos “que testemunham, narram histórias particularidades desta amizade entre dois homens de cultura e de letras”.
“A casa torna-se um símbolo, da amizade, a amizade como casa, como abrigo, como território de intimidade e troca e de convivência, mas também como cidade e o Porto como ponto de encontro e desencontro de Germano e de Pina e de uma série de amigos que se desdobram nesta relação”, rematou.
O acervo fotográfico de Lucília Monteiro e a coleção de livros e periódicos das Bibliotecas do Porto, em parceria com recolhas do Jornal de Notícias e Diário de Notícias, acompanham o diálogo expositivo, onde os artistas Vítor Israel e Agostinho Santos participam com trabalhos plásticos.
A exposição conta ainda com filmes documentais de Joana Bastos Rodrigues, Pedro Macedo e Alberto Serra sobre os dois escritores.
Para Rita Roque, “mais do que uma exposição que lhe é dedicada [a Pina]”, esta é uma exposição dedicada à fraternidade e amizade de Manuel António Pina e Germano Silva, cuja os fragmentos aqui expostos, acrescenta Jorge Sobrado deixam “respirar aspetos de identidade destas personagens”, como “alegria e o espanto da infância” que dois parecem partilhar.
“Parece que Manuel António Pina e Germano Silva não envelhecem, nem desaparecem, são sempre crianças de um certo modo. Há uma alegria nessa amizade, que é maior que a fraternidade; uma alegria em viver a cidade, que é algo de infância”, defendeu o responsável pelo Museu e Bibliotecas do Porto.
A nova proposta expositiva do Museu do Porto enquadra o programa de homenagem da Feira do Livro, cuja edição deste ano é dedicada a Manuel António Pina, sendo inaugurada na sexta-feira, dia de abertura do certame.
Manuel António Pina morreu em 2012, tinha 68 anos. Como jornalista, cronista, poeta e autor de livros infantojuvenis publicou mais de 120 títulos, tendo arrecadado em 2011 o Prémio Camões, o maior galardão de literatura em língua portuguesa.
Tal como Pina, que nasceu no Sabugal, Germano Silva não nasceu no Porto (e sim em Penafiel), mas fez da cidade a sua casa. Especialista na história da Invicta, dedicou-lhe mais de 20 livros e continua a escrever regularmente sobre a cidade.
A exposição “Pina Germano” fica patente até 12 de janeiro de 2024, no Gabinete Gráfico – Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
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