“Siri”, cuja estreia presencial no Teatro do Campo Alegre está agendada para as 19h00 de sexta-feira, é uma cocriação de Marco da Silva Ferreira e Jorge Jácome, que começou em 2016 no espetáculo “Íris”, cuja palavra espelhada deu “Siri”, o nome de uma aplicação tecnológica.

“Na verdade, tem a ver muito menos com a aplicação para telemóveis e tem mais a ver com um universo que combina o tecnológico com o orgânico, e sobre um campo arqueológico entre um estado real e um estado virtual”, explicou aos jornalistas Marco da Silva Ferreira, no ensaio para a imprensa, que decorreu hoje no Teatro do Campo Alegre.

Segundo o coreógrafo e bailarino, que vai também entrar no espetáculo, “Siri” vai ter em cena quatro bailarinos a interagir com 12 robôs de luz.

Os robôs são também bailarinos com um movimento “muito gracioso” e que acabam por servir a peça “num lugar de corpo de baile e de serem objetos dançantes”, acrescentou o intérprete.

“Basicamente estes quatro intérpretes humanos em cena entram num processo de cura ou de tentativa de massagem, quase como se fossem umas memórias que algures começam a ficar deterioradas e que precisam de se curar, de se adaptar, como acontece com a memória humana”, realçou.

Tudo isto acontece num ciberespaço, “num espaço virtual”, onde os 12 robôs vão acumulando essa informação, uma espécie de “inteligência artificial”, começando a desejar ter um corpo para poder dançar.

E é dentro desta linguagem em que as memórias das figuras humanas entram em terapia, que os robôs acabam por “sofrer um processo de aprendizagem”, onde se vai misturar o virtual e o real.

Marco da Silva Ferreira assume que há uma “relação forte” da peça e o momento de pandemia que o mundo atravessa, apesar de ter sido uma coprodução pensada e criada antes da covid-19.

“O espetáculo era suposto ter estreado antes da pandemia, mas já tínhamos a ideia de mostrar o íntimo, o toque, a sensibilidade levada a um extremo, quase como se fossem uns ciborgues híper-sensíveis e, então, acabamos por, ao entrar num estado de pandemia, e de nos ser retirado o potencial de toque e de aproximação, ter um trabalho altamente pertinente na medida em que os bailarinos passam o tempo a querer tocar-se, a querer tocar-se mais profundo, a quererem entrar num universo muito mais texturado, das respirações, das sensações, do tato, que nos está privado neste momento”.

“Siri” é o espetáculo de encerramento da 5.ª edição do DDD – Festival Dias da Dança, e vai poder ser visto em formato ‘online’ depois da estreia.