“Enquanto recrutas em formação vamos partilhar memórias, angústias, momentos muito difíceis e também o gosto de ser bombeiro e o sentido de comunidade que têm”, disse a diretora artística do projeto e vice-presidente da Zun-Zum.

Márcia Leite adiantou à agência Lusa que a ideia do “Teatro de Operações” nasceu com a “partilha de memórias de infância e do espaço onde se partilhavam essas histórias”, já que a Zun-Zum está agora sediada no antigo quartel dos BVV, mas ainda sua sede social.

“E para nós fazia todo o sentido fazer este trabalho neste edifício, onde o público é convidado a percorrê-lo com os atores, desde os armazéns, em baixo, como o quartel, a sala de formação e o salão, no andar de cima”, especificou.

A estreia de “Teatro de Operações” está marcada para as 21h00 desta sexta-feira, 25 de março, dia em que os BVV celebram 136 anos de vida e, por isso, “só podia ser nesta data a apresentação deste espetáculo que é muito deles, dos bombeiros”.

No fim de semana, há também quatro sessões, duas em cada dia (16h00 e 19h00), “também porque no domingo, 27, é Dia Mundial do Teatro e dá-se a coincidência de o edifício celebrar 46 anos da sua inauguração”.

O “Teatro de Operações” conta com nove atores a que se juntam “pontualmente um ou outro músico e jovens recrutas de bombeiros”, cujo “dever que sentem para com o outro e o trabalho que fazem em prol da sociedade está sempre muito vincado” no espetáculo.

“O voluntariado e o seu futuro é uma das questões levantadas, assim como as emoções, porque não há como sentir perante as histórias que ouvimos das entrevistas que fizemos para este trabalho”, avançou.

Márcia Leite contou que, no trabalho de grupo, “ninguém conseguiu ficar indiferente à capacidade de resposta na emergência, ao sangue-frio necessário para tomar decisões e para saber sempre até que ponto a segurança do bombeiro está em risco”.

“São muitas emoções em muitas histórias, desde as que acabam bem, às que terminam da pior forma e, das mais marcantes, está a colisão entre os comboios em Alcafache que os bombeiros não esquecem e ainda sentem muito, mesmo os que não estiveram no local”, disse.

O acidente em causa ocorreu em 11 de setembro de 1985, na Linha da Beira Alta, no concelho de Mangualde, tendo provocado a morte a 37 pessoas e mais de 170 ficam feridas e, ainda hoje, “faz parte dos relatos dos bombeiros”.

Este espetáculo nasceu “de entrevistas feitas a bombeiros e a um antigo comandante, Luís Duarte” e, durante “pouco mais de uma hora o edifício vai ser percorrido com uma cena em cada espaço, inclusive um simulacro que conta com a participação de bombeiros recrutas”.

O projeto ComUnidade, da Zunzum – Associação Cultural, chega este ano na 10.ª edição e, “todos os anos, conta com pessoas novas e outras que regressam, porque o objetivo é esse, é dar a conhecer e a experimentar a arte do teatro aos cidadãos e, quem gosta, pode voltar”.

Márcia Leite divide a direção artística do espetáculo com Filipa Fróis, “uma jovem que iniciou este projeto e, gostou tanto, que fez formação em teatro”, e, em cena, estão Eduarda Lopes, Gabriel Ribeiro, Guilherme Carvalho, Joana Santareno, Júlia Vasconcelos, Leonor Amaral, Leonor Mendes e Teresa Chuva.