Miguel Fragata e Inês Barahona, fundadores da companhia teatral Formiga Atómica, estreiam no LU.CA - Teatro Luís de Camões a peça "O estado do mundo (quando acordas)", que fará parte de um díptico de espectáculos sobre a crise climática e a presença dos humanos no planeta.
"Teremos um segundo espetáculo, que só deverá estrear em 2024, com uma pesquisa mais aprofundada e mais ampla, com mais tempo e com mais hipótese de encontros, de relação com as pessoas, pelo país. Será de maior porte e para adultos", explicou Miguel Fragata à agência Lusa.
"O estado do mundo (quando acordas)" é um monólogo protagonizado pelo ator Edi Gaspar, que em palco está acompanhado de uma esfera gigante, semelhante a um meteorito, e uma tela de projeção também ela redonda.
É dentro da esfera e em redor dela que o ator recorre a uma parafernália de objetos do quotidiano, e a uma câmara de filmar, para entrelaçar as histórias de crianças em diferentes territórios do planeta, todos elas profundamente marcadas pelas consequências da poluição e das alterações climáticas.
Do ponto de vista cénico, Miguel Fragata, que assina a encenação, queria pôr em prática a noção de dimensão das catástrofes gigantescas - como inundações, incêndios e desflorestação, com uma escala em ponto pequeno, recorrendo a cenários, brinquedos e outros adereços em miniatura.
"É nas histórias que está a chave para nos entendermos", afirma Miguel Fragata, sublinhando a intenção de que as crianças devem ser convocadas e implicadas nas decisões futuras do planeta.
"A consciência é a grande questão", disse.
À Lusa, o encenador admitiu ainda que o trabalho de pesquisa e o processo criativo desta peça foi transformador a nível pessoal e na própria existência da companhia teatral, fundada com Inês Barahona em 2014.
"A nossa vida mudou de facto, todos nós um bocadinho nesta equipa ficámos muito impressionados, não que não soubéssemos sobre esta questão. A partir do momento em que nos confrontamos com a realidade e com possibilidades de ação, não podemos ficar iguais, mesmo no nosso quotidiano, e há uma série de pequenas coisas que vamos mudando", disse.
A nível individual, tanto Miguel Fragata como Inês Barahona mudaram hábitos de vida, de alimentação, de deslocação e na forma como se relacionam com o ato de consumir.
Na Formiga Atómica, a atividade será sempre feita também "à luz desta preocupação" sobre o impacto dos humanos no planeta: "De que forma vamos pôr espetáculos a circular, como no vamos deslocar para digressões, se não conseguindo evitar por completo o avião, como encontrar algum tipo de alternativa ou compensação".
"Queremos muito pensar em abrandar, não para fazer menos, mas para fazer de forma mais intensa e profunda e que faça mais justiça aos projetos. Queremos dedicar os próximos dois anos a uma pesquisa muito aprofundada e que seja sustentada de contacto com o público e de recolha de histórias", afirmou Miguel Fragata.
"O estado do mundo (quando acordas)", que por casualidade se estreia na semana em que decorre a Cimeira do Clima, em Glasgow, no Reino Unido, fará uma temporada no LU.CA até ao dia 28 e terá depois apresentações a 08 e 09 de dezembro no Cartaxo.
Em janeiro estará por várias localidades do Minho e em março contará com uma versão francesa em estreia no Théâtre de la Ville, em Paris.
Antes de avançarem para o segundo espetáculo deste díptico dedicado ao clima e porem em prática essa vontade de desaceleração, a companhia teatral ainda estreará em março no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, o espetáculo "Má Educação - Peça em três rounds".
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