Aretha Franklin morreu esta quinta-feira às 9h50 da manhã na sua casa em Detroit (14h50, hora de Lisboa). A informação da morte da cantora foi confirmada em comunicado pela sua publicista, Gwendolyn Quinn, em nome da família de Franklin.
"A causa oficial da morte de Aretha Franklin foi um cancro avançado no pâncreas do tipo neuroendócrino, confirmado pelo seu oncologista, Philip Phillips, do Karmanos Cancer Institute", lê-se na declaração da família.
A lendária cantora encontrava-se "gravemente doente" e a sua família estava reunida junto a ela na sua casa.
"Num dos momentos mais difíceis das nossas vidas, não conseguimos encontrar as palavras certas para expressar a dor no nosso coração. Perdemos a matriarca e o rochedo da nossa família. O amor que ela tinha pelos seus filhos, netos, sobrinhas, sobrinhos e primos não tinha limites", pode ler-se no comunicado.
"Temos ficado profundamente emocionados pelas demonstrações de amor e apoio que temos recebido dos nossos amigos próximos, apoiantes e fãs por todo o mundo. Obrigada pela vossa compaixão e pelas vossas orações. Sentimos o vosso amor pela Aretha e dá-nos conforto saber que o seu legado vai perdurar. Enquanto fazemos o nosso luto, pedimos que respeitem a nossa privacidade neste momento difícil", acrescenta o documento.
Aretha Franklin tinha recebido na terça-feira visitas do ícone musical Stevie Wonder e do ativista pelos direitos civis Jesse Jackson, entre uma avalanche de votos de recuperação enviados de todo o mundo, disse uma porta-voz da cantora.
"Visitámos e rezámos com @ArethaFranklin hoje", tweetou Jackson mais tarde. "Por favor, continuem a colocá-la nas vossas orações. Peçam para que lhe deem as bênçãos mais ricas de Deus".
Jackson declarou ao jornal Detroit Free Press que visitou Franklin muitas vezes nos últimos "dois ou três anos durante o curso da sua doença".
O ativista, que trabalhou com o falecido Martin Luther King Jr., destacou as contribuições de Franklin ao movimento de direitos civis dos Estados Unidos.
"Quando o Dr. King estava vivo, ela ajudou-nos muitas vezes a pagar os salários", afirmou Jackson ao jornal. "Aretha sempre foi uma artista com consciência social, uma inspiração, não apenas uma artista", acrescentou.
Dezenas de pessoas reuniram-se também na igreja batista de New Bethel para uma cerimónia dedicado à cantora, que durante cinco décadas influenciou diferentes gerações como uma das divas da música.
Aretha Franklin, de 76 anos, foi diagnosticada com cancro em 2010 e atuou pela última vez em novembro de 2017 na festa da fundação de luta contra a SIDA de Elton John, em Nova Iorque. A sua última atuação pública aconteceu em Filadélfia, em agosto de 2017.
"Foi um espetáculo milagroso, pois Aretha já lutava contra a exaustão e a desidratação", escreveu Friedman sobre o concerto em Filadélfia.
No artigo do site showbiz 411, o jornalista Roger Friedman adiantou que Aretha estava "rodeada pela sua família e aqueles que lhe são próximos".
Aretha Franklin é classificada como a "Rainha da Soul" e ao longo da sua carreira já recebeu 18 Grammys, o último dos quais em 2008 por um dueto com Mary J. Blige no tema "Never Gonna Break My Faith".
Entre os seus maiores sucessos estão "(You Make Me Feel Like) A Natural Woman" (1968), "Day Dreaming" (1972), "Jump to It" (1982), "Freeway of Love" (1985) e "A Rose Is Still A Rose," (1998).
O álbum de Aretha de 1972 “Amazing Grace” é um dos álbuns gospel mais vendidos de sempre, com 2 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.
O seu último álbum, "A Brand New Me", foi lançado em 2017 e logo de seguida anunciou que se iria retirar do mundo do espetáculo.
A rainha do soul
Aretha Franklin foi considerada a maior cantora de todos os tempos pela revista Rolling Stone e, pela mesma revista, a nona maior artista da música de sempre.
Aretha Louise Franklin nasceu em 25 de março de 1942 em Memphis, no Estado norte-americano do Tennessee - onde esteve sediada a editora Stax, que editou Otis Redding -, mas veio a crescer em Detroit, a outra principal cidade do soul norte-americano e lar da editora Motown. Filha do reverendo C.L. Franklin, viu o pai marchar com Martin Luther King e cantou, em 1968, no funeral deste último, em imagens que hoje podem ser vistas no Youtube.
Entre 1961 e 1965 lançou sete discos para a editora Columbia, sem grande sucesso, numa altura em que o ‘soul’ já estava afirmado nas listas de mais vendidos e ouvidos, mas quando se mudou para a Atlantic, então nas mãos de Ahmet Ertegun e Jerry Wexler, o resultado foi outro.
O primeiro disco gravado com a nova editora, em 1967, chamou-se “I Never Loved a Man the Way I Love You" e tinha como primeira faixa uma canção intitulada “Respect”, que Aretha Franklin ouviu na rádio pela voz de Redding enquanto estava a limpar o apartamento para o qual se tinha acabado de mudar, em Detroit.
“Tinha uma boa rádio sintonizada. Adorei. Adorei! Senti que podia fazer algo diferente com a canção”, afirmou, citada pela revista Elle, em 2016, que se referiu à sua versão de “Respect” como “talvez o ato mais genial de reinvenção ‘pop’ da história da música americana” ao transformar em poder feminino o desespero de um homem que dizia à amada que esta o podia trair desde que voltasse para casa para lhe dar respeito.
Essa transição é notória logo a abrir a canção: enquanto Otis cantava que “O que tu queres, querida, tu tens”, Aretha afirmava que “o que tu queres, querido, eu tenho”.
Numa entrevista dada à britânica Record Mirror, em 1968, Aretha Franklin disse que sempre viu potencial na versão que fez de “Respect” e que sabia que ia ser um sucesso.
Na altura, questionada sobre se no futuro ainda se veria a cantar canções como “Respect” ou “Think”, Franklin disse que não: “A música muda e eu vou mudar com ela”.
Sobre a versão de “Respect” feita por Aretha, o histórico crítico Greil Marcus escreveu que a canção “abriu a porta à grandiosidade moral do que Aretha Franklin tinha para dizer ao mundo, uma nova definição do que ‘soul’ significava: que podia ser avassaladora”.
A era na Atlantic, que durou até 1975, trouxe outras canções que ficariam para sempre associadas ao nome de Aretha Franklin, como “Chain of Fools” e “Natural Woman”, enquanto, em 1987, voltou a ocupar o topo da tabela dos mais vendidos com “I Knew You Were Waiting (for Me)”, em dueto com George Michael.
A designação como “Rainha da soul” chegou em 1968, durante um concerto em Chicago, quando lhe foi colocada uma coroa, um objeto que não lhe fez falta durante o resto da carreira no trono daquele género.
Aretha tornou-se na primeira mulher a fazer parte do Rock & Roll Hall of Fame a 3 de janeiro de 1987. Em 1979 já tinha recebido uma estrela no Passeio da Fama.
É a segunda cantora com mais Grammys de todos os tempos, atrás apenas de Alison Krauss. Aretha tem dezoito prémios competitivos e três honorários.
Para lá da carreira musical, Aretha tornou-se também numa das vozes mais relevantes da América Negra e um símbolo da igualdade racial.
Apesar da sua carreira de sucesso se estender por décadas, apenas dois singles estiveram no primeiro lugar do top da Billboard: "Respect", de 1960, e "I Knew You Were Waiting (For Me)", o dueto que fez com George Michael. Mas outros entraram na lista dos 20 mais vendidos, como "Think", "I Say a Little Prayer", "Until You Come Back to Me", "Chain of Fools", "(Sweet, Sweet Baby) Since You've Been Gone", "Call Me", "Ain't No Way", "Don't Play That Song (for me)" ou "Freeway of Love".
Com múltiplas canções nas listas das mais vendidas e ouvidas, incluindo no começo do século XXI, Franklin cantou pelo mundo fora e nas tomadas de posse dos presidentes Bill Clinton e Barack Obama, tendo sido condecorada pelo outro ocupante do cargo entre os dois democratas, George W. Bush.
Relutante com jornalistas e receosa de aviões (um artigo de 2011 no New York Times indicava que a cantora não punha pé no ar desde 1983), Aretha Franklin teve quatro filhos e, em 2017, anunciou que se ia retirar do mundo da música para dedicar mais tempo aos netos.
Franklin foi sempre considerada uma das melhores cantoras do mundo, reconhecida pela sua flexibilidade vocal e inteligência interpretativa, e foi muitas vezes elogiada pela crítica por seus arranjos e interpretações da obra de outros artistas.
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