De acordo com a orquestra, que o maestro fundou em 1959 e da qual era diretor artístico, Claudio Scimone "morreu serenamente" durante a madrugada.

"Até sempre, maestro!", publicou a Fundação Calouste Gulbenkian na página de abertura do seu site, a que acrescentou "Claudio Scimone 1934-2018", sobre uma fotografia de Claudio Scimone, durante a sua última atuação em Lisboa, em maio de 2016.

Scimone foi maestro titular da Orquestra Gulbenkian, entre 1979 e 1986.

Claudio Scimone nasceu em Pádua, em 23 de dezembro de 1934, estudou com Dimitri Mitropoulos, maestro histórico das orquestras Sinfónica de Boston e Filarmónica de Nova Iorque, nos anos de 1940-1950, e com Franco Ferrara, violinista, um dos principais pedagogos italianos do século XX.

O reconhecimento internacional consolidou-se nos anos de 1960, sobretudo com a direção de produções de ópera, na Europa e nos Estados Unidos, e com a criação da orquestra de câmara I Solisti Veneti (Os Solistas de Veneza), com que resgatou obras do período Barroco e do Renascimento, então raras no repertório erudito.

Na biografia de Scimone publicada pela Gulbenkian, são destacadas as produções de ópera dirigidas pelo maestro na Royal Opera House, em Londres, no Festival Rossini, em Pesaro, na Grande Ópera de Houston, na Ópera de Zurique, na Arena de Verona, no Teatro La Fenice de Veneza, no Lincoln Center, em Nova Iorque, e na Ópera de Roma, entre outras.

Ao longo da carreira, Scimone dirigiu orquestras como a Filarmónica Real, em Londres, a Orquestra de Câmara Inglesa, a Filarmónica da Radio France e as sinfónicas de Montreal, Otava, Houston, Dallas, Sidney, Melbourne, Tóquio, Bamberg e Praga.

Foi igualmente maestro convidado do Festival de Salzburgo (1975-1993), do Maio Musical Florentino, do Festival de Música de Aspen, do Festival du Marais e do Maio de Versalhes, em França, e de festivais de Veneza, Besançon, Bordéus, Londres, Helsínquia e Nymphenburg.

Como musicólogo, editou a obra instrumental e dramática de Vivaldi, em "Segno, Sgnificato, Interpretazione", destacando-se a ópera "Orlando Furioso", de que fez a estreia moderna e que gravou com as cantoras Marilyn Horne e Victoria de los Angeles, nos anos de 1970.

Dirigiu, em estreia mundial, produções e gravações de Rossini, como as óperas "Maometto II", "Ermione", "Zelmire", "Armida" e "Mose in Egitto", que apresentou no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, em 1981.

Entre os mais de 250 títulos que gravou, muitos em estreia absoluta, contam-se as sinfonias de Muzio Clementi, inéditos de Puccini, Mercadante e Arrigo Boito, aberturas de Donizetti, Spontini e Ponchielli, além de concertos de Antonio Vivaldi e a integral de Albinoni.

Recebeu um Grammy pela gravação de "L’Italiana in Algeri", de Rossini, com Marilyn Horne, Samuel Ramey e Kathleen Battle. Foi distinguido ainda com o Prémio Mundial do Disco de Montreaux, o Grand Prix du Disque da Academia Charles Cros, o Prémio da Crítica Discográfica Italiana e vários Diapason d’Or, da crítica francesa, entre outros.

Como professor, dirigiu a classe de Orquestra do Conservatório de Veneza e foi diretor do Conservatório de Pádua, durante quase 30 anos.

Compositores contemporâneos como Franco Donatoni, Riccardo Malipiero e Cristobal Halffter escreveram obras para o maestro e I Solisti Veneti.

O jornal Il Mattino de Pádua recorda, na sua edição online, a luta de Scimone pela reposição do financiamento público à sua orquestra, I Solisti Veneti, que sofreu um corte de 100 mil euros, "um terço" do montante anual expectável, de acordo com os valores estatais anunciados no final de julho.

"É claro que, nessas condições, I Solisti Veneti, que começaram a sua 60.ª temporada (...), terão de suspender concertos futuros", disse o maestro ao jornal italiano, no início de agosto.

O último concerto da orquestra, com direção artística de Scimone, foi realizado no domingo passado, em Bressanone, nos Alpes italianos.