Pierre Boulez, compositor de músicas clássicas e maestro francês, morreu esta terça-feira, 5 de janeiro, aos 90 anos, em Baden-Baden, na Alemanha.

"Para todos os que o trataram e puderam apreciar a sua energia criativa, a exigência artística, a disponibilidade e a sua generosidade, a sua presença continuará viva e intensa", disse a família em comunicado divulgado pela banda filarmónica de Paris, do qual era membro fundador.

Nascido a 26 de março de 1925, Boulez estudou música no Conservatório de Paris e dodecafonismo com René Leibowitz. Influenciado principalmente por  Stravinsky, Messiaen, Shönberg e Weber, criou o Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique (1976) e o Ensemble Intercontemporain (1976).

Presença assídua em Portugal, principalmente para colaborar com a Fundação Calouste Gulbenkian, o músico foi artista associado do Ano França (2012) na Casa da Música, apesar de não ter dirigido as suas obras devido a problemas de saúde.

O diretor artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, disse hoje que a morte do compositor e maestro francês Pierre Boulez, que aceitou ser artista em residência da instituição em 2012, significa “o fim de uma época”.

“Pierre Boulez foi muito mais do que um grande compositor e maestro, foi um pensador de uma inteligência fulgurante que deixa uma produção teórica da maior importância”, afirmou, em comunicado, António Jorge Pacheco.

O diretor artístico da instituição do Porto sublinhou ainda “a enorme abertura de espírito e curiosidade intelectual de Boulez, que o levou a defender muitos jovens compositores que, não tendo nada com a sua escola de pensamento e linha estética, encontraram nela um maestro dedicado e generoso”.

Em 2011, recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Santiago pelas mãos de Jorge Sampaio, então Presidente da República.

Considerado um dos maiores nomes da música clássica contemporânea, pelo desenvolvimento de técnicas e métodos de composição assentes, muitos deles, em princípios matemáticos, esteve ainda envolvido na criação da Ópera da Bastilha e da Cité de la Musique, na Villettte, em Paris.

"As gravações de obras de Pierre Boulez constituem uma importante discografia, compreendendo o seu catálogo mais de trinta obras, desde as peças para solista (Sonata para Piano, Dialogue de l'ombre double para clarinete, Anthèmes para violino) às obras para grande orquestra e coro (Le Visage nuptial, Le Soleil des eaux), ou para agrupamentos instrumentais e electrónica (Répons, ...explosante-fixe... )", destaca o site da Fundação Calouste Gulbenkian.

SWITZERLAND MUSIC LUCERNE FESTIVAL
 

Primeiro-ministro francês recorda audácia de Boulez

"A morte de Pierre Boulez põe verdadeiramente um ponto final ao vanguardismo musical do século XX", que contou com outros nomes como Luciano Berio (1925-2003), Karlheinz Stockhausen (1928-2007), Gyorgy Ligeti (1923-2006) e Henri Pousseur (1929-2009), afirma hoje o jornal Le Monde.

Através do Twitter, o primeiro-ministro de França, Manuel Valls, escreveu: "Audácia, inovação, criatividade, eis o que Pierre Boulez significa para a música francesa, e que espalhou por todo o mundo".

O Le Monde recorda algumas das polémicas em torno de Pierre Boulez, nomeadamente a relação com o poder político em França nos anos 1960.

Em 1962 o então ministro de Estado, André Malraux, nomeou uma comissão para refletir sobre políticas na área da música, a partir das críticas de Pierre Boulez em relação ao panorama francês, mas aquele acabou por escolher o compositor Marcel Landowski para avançar com uma reforma estrutural.

Pierre Boulez "bateu com a porta" e exilou-se em Baden-Baden. Só aceitou regressar a França já na década de 1970, quando fundou em Paris o IRCAM e o Ensemble Intercomtemporain, conta o jornal.

Teórico, pedagogo, o maestro que dirigia orquestras sem batuta, Pierre Boulez participou em "produções memoráveis", como recorda a France Press, como "Ring du centenaire", no Festival Wagner de Bayreuth (1976-1980), e a versão integral de "Lulu", de Berg, em Paris em 1979.

Em 1995, por ocasião dos seus 70 anos, Pierre Boulez fez uma digressão mundial com a Orquestra Sinfónica de Londres, mas em 2015 já não participou nas celebrações internacionais pelo 90º aniversário, por razões de saúde.

Entre os prémios conquistados contam-se, por exemplo, o Prémio da Fundação Siemens, Prémio Leonie Sonning, Prémio Imperial do Japão, Polar Music Prize, Prémio Grawemeyer e um Grammy para a melhor composição contemporânea, pela obra "Répons".