A viagem começa no Reservatório, precisamente a primeira das 17 estações que alimentam o Museu da Cidade.

“Estamos no Reservatório que se situa na Pasteleira, na zona ocidental da cidade, e o Museu percorre a cidade até à zona oriental, até ao Matadouro [Industrial de Campanhã], à Quinta da Bonjoia e ao CACE [Centro de Apoio à Criação de Empresas] do Freixo. É a primeira característica que o Museu tem, não se encerra num espaço só”, explicou o diretor artístico do Museu da Cidade, Nuno Faria.

O curador e programador descreve o Museu da Cidade do Porto como um rizoma, um tipo de caule que cresce horizontalmente, geralmente subterrâneo.

Das 17 estações, cinco estão ainda construção - como a Extensão da Indústria e o do Matadouro Industrial de Campanhã - e três estão a ser repensadas. São elas o Ateliê António Carneiro, a Casa dos 24 e o Arqueossítio que, antecipa Nuno Faria, devem abrir em 2022.

Na estação 1, o antigo reservatório de água foi transformado numa estação arqueológica que é, simultaneamente, um museu, um espaço de trabalho e de mediação e uma reserva viva onde se guardam vestígios arqueológicos.

“É uma estação arqueológica que aqui guarda e expõe vestígios, artefactos, fragmentos que foram descobertos em escavações arqueológicas no território do Porto, em campanhas de escavação que ocorreram durante todo o século XX e XXI e que prosseguem”, explicou.

Concebido como um labirinto do tempo, o espaço do Reservatório, que abriu ao público há dias, estrutura-se em função de dois eixos: o primeiro, na horizontal, é topográfico, fazendo corresponder as diferentes alas por zonas do território onde aconteceram importantes campanhas de escavação. O segundo, na vertical, é estratigráfico, atravessando diferentes épocas do período histórico e pré-histórico.

A viagem é oferecida também no antigo Museu do Vinho do Porto, que, em junho, viu inaugurado um novo tempo. Localizada em plena Ribeira, a Extensão do Douro abre a porta para a descoberta da região.

“Temos o Gabinete do Vinho onde se pode experimentar diferentes tipos de vinho junto ao rio e diferentes produtos”, descreveu Nuno Faria.

No edifício de cinco pisos, há ainda lugar para o Arquivo do Vinho, um espaço onde acontecem conversas com enólogos, produtores e especialistas.

Enquanto “posto avançado do Douro”, o espaço, com a nova montagem, irá assumir um ritmo sazonal em harmonia com os ciclos da vinha, sendo reativado com novas exposições nos meses de março e de setembro.

“Esta montagem em particular, a que chamamos ‘Douro: Terra e Atmosfera’ parte de uma grande investigação que foi feita em 2019 a partir de um convite feito ao município do Porto para produzir uma exposição sobre o Douro, pela Citie do Vin, que é uma espécie de Meca do Vinho na Europa (…). Deu-nos um manancial muito importante de informação e de material que convocamos em parte para esta montagem”, referiu, convidando os visitantes a embarcar numa viagem sensorial e intelectual sobre o Douro.

À escala da cidade, o Museu não se extingue numa dimensão. O conceito, criado em 1989 por uma professora universitária e repensado por Nuno Faria, assenta em cinco eixos: Material; Líquido; Romantismo; Natureza e Sonoro.

É neste último que partilha caminho com a Biblioteca Sonora, instalada na Biblioteca Pública do Porto, que o projeto da Rádio Estação se materializa.

Criada em 2020, durante a Feira do Livro do Porto, a Rádio Estação é hoje a extensão imaterial do Museu da Cidade. Atualmente instalada na estação da Casa Tait (3), assume-se como uma “rádio—em—abismo, sem locução” de caráter nómada, onde as rubricas pretendem cumprir a vocação sonora que o projeto de museu quis trabalhar.

Nuno Faria descreve-a como um “espaço experimental” para pensar cidade.

 “Estamos a fazer um programa que se chama ‘Arca’ que é uma espécie de arquivo sónico da cidade que acolhe vários fragmentos e composições sonoras mais ou menos antigas, mais ou menos perdidas, mas também o programa ‘Trabalhar Cansa’ com o sociólogo Bruno Monteiro, em que trabalhamos os conteúdos do que será a [futura] Estação da Indústria, sobre práticas laborais, a indústria do Porto, o operariado”, revelou.

Tal como a nómada Rádio Estação, também o Museu da Cidade é uma peça em constante construção. Em agosto, em dia de abertura da Feira do Livro, nasce a Extensão do Romantismo, outrora Museu do Romântico.

Em construção, estão ainda as extensões de ‘Entre Quintas” (5), ponto de confluência de todo o projeto educativo e do Rio da Vila (7), cujo trajeto museológico entre a Praça de Almeida Garrett, junto a São Bento, e o Largo de São Domingos, é feito debaixo do solo.

A Extensão da Indústria (15), a instalar nas antigas oficinas da EDP, em Campanhã, com conclusão no final de 2023; a Extensão do Matadouro (16) que acolherá também em 2023 a coleção Távora Sequeira Pinto e o projeto da Bonjóia — Extensão da Natureza (17) que vem reativar e requalificar uma das quintas do espaço urbano do Porto, completam a lista.

Em pleno funcionamento estão oito estações, entre elas o Banco de Materiais (6) ou a Casa Guerra Junqueiro (10) que reconstitui o ambiente e a disposição original dos objetos na casa onde o poeta viveu no Porto.

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