Juntando música, esoterismo, artes performativas e experiências sensoriais, os presentes puderam testemunhar o incentivo à expressão livre, à descoberta do desconhecido e à comunhão pelo que é comum.
É verdade que Lisboa tem muitos jardins “escondidos” que, quando descobertos, parecem dar outra imagem à cidade. Quem visitou os Jardins do Museu de Lisboa, com a devida decoração que o Mytho Celebration instalou, teve a oportunidade de experienciar uma série de universos alternativos, que urgem ser necessários no quotidiano. Espaço para nós mesmos, espaço para podermos contemplar e celebrar com quem gostamos.
Logo à entrada, no Temple of Transition, havia uma espécie de receção em que os visitantes podiam começar, desde logo, a personalizar a sua experiência. Desde secção de maquilhagem, a pintura de henna ou “mangas personalizadas”, cada um era livre de escolher a palete de cores e/ou a forma com a qual se queria expressar. Passada a primeira cortina, entramos então no mundo encantado da celebração da expressão individual.
Do lado direito ficou o Celebration Stage onde vários artistas foram actuando. A tarde começou com o DJ set de Kokeshi, seguindo-se o concerto de Surma. Já conhecida pelas suas performances intimistas e altamente sensoriais, a jovem artista leiriense complementou a sua atuação com a presença de dois bailarinos extraordinários – Guilherme Leal e Catarina Godinho. Se por um lado Surma costuma encantar e conquistar com o seu sorriso e a sua entrega, por outro foi também um privilégio podermos testemunhar o quão hipnotizante pode ser a expressão corporal aliada às suas construções sonoras. Sem dúvida um dos grandes momentos do dia.
O Celebration Stage viu ainda passar o DJ set de Mike El Nite, que colocou os já presentes a dançar. Seguiu-se Da Chick, também já bastante reconhecida pelas suas performances enérgicas e contagiantes.
A grande surpresa da noite, ainda assim, foi Custom Circus (Nirvana Studios), que apresentou um espectáculo que vai para além do musical, apresentando-nos uma espécie de freak show rocambolesco absolutamente fascinante. Desde o cenário ao guarda-roupa, passando pelas diferentes mini-histórias bizarras, foi impossível ficarmos indiferentes ao que se passava em palco. Não faltou pirotecnia nem fogo e viajámos entre os tempos do Moulin Rouge e uma espécie de universo steampunk. Um autêntico hino ao mote do Mytho Celebration.
Finda a atuação no Celebration Stage, foi no Garden of Senses que Xinobi assumiu o comando da música, com o seu DJ set. Neste espaço, para além da música tínhamos ainda vários pontos em que artistas expressavam a sua arte através das suas telas ou com pequenas performances. A decoração com a bola de espelhos e os diferentes focos de luz coloridos reforçaram novamente o ambiente acolhedor e algo mágico.
Na verdade, um dos grandes momentos da noite foi entre a actuação de Da Chick e Custom Circus, em que quatro bailarinos apareceram numa das pontas do jardim, num espaço rodeado por árvores, e iniciaram um acto performativo que misturava espontaneidade com coreografia de forma bastante fluída. Este pequeno ato termina com os quatro bailarinos a puxarem as pessoas para aquele espaço o jardim, fazendo recordar as lendas dos seres antigos que desviavam as pessoas dos seus caminhos para entrarem no seu universo místico, em que a noção de espaço e de tempo se perdia.
Também o místico esteve então fortemente presente no Mytho Celebration com uma das áreas dos Jardins de Lisboa dedicada aos conhecimentos esotéricos, o Mystic Groove. Ao longo de um corredor houve zonas dedicadas tanto a leitura de runas, como espaço para conversas com pessoas das mais diferentes áreas como Astrologia, Numerologia, Tarot, Aromaterapia, Yoga, Biodanza, entre outros. Aqui, a celebração do mito tinha a forma de partilha de conhecimento.
Sem dúvida uma experiência única e que merece voltar a acontecer. Não só é de louvar a abertura de espírito como é de reconhecer e reforçar que a expressão artística e individual pode, e deve, ter diferentes formas, todas elas podendo coabitar em perfeita harmonia, sem medos, de forma pacífica e entusiasta. A adesão pode não ter sido extraordinária, mas o conceito e a forma como foi explorado merece um espaço no nosso calendário cultural.
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