Parece que acabou de começar, mas já chegou ao fim. A edição de 2018 do NOS Primavera Sound terminou este sábado, dia 9 de junho, com concertos de Nick Cave e dos The War on Drugs a mereceram a atenção em peso do público que esgotou o recinto do Parque da Cidade do Porto.

Apesar da chuva, os festivaleiros chegaram cedo para não perderem os primeiros concertos do dia. O português Luís Severo, às 17h00, foi um dos primeiros a subir a palco para apresentar o seu último disco, editado em 2017.

À mesma hora, a banda de Palma de Maiorca, os Oso Leone, trouxe até ao Primavera o seu último disco ("Gallery Love") e contagiou o público com a sua fantasia electrofolk. Pouco depois, à hora do pôr do sol, foi a vez dos Flat Worms animarem o Palco Seat com o seu rock ’n’ roll.

Senhoras e senhores, Nick Cave

Mas o concerto mais esperado da noite (e, talvez, do festival) arrancou pouco depois das dez da noite. Com o anfiteatro natural do Palco NOS completamente lotado, Nick Cave, acompanhado da banda The Bad Seeds, abriu o seu coração ao apresentar ao vivo as canções de "Skeleton Tree" (2016) - disco é muito marcado pela morte do filho de 15 anos, Arthur, numa queda em Brighton, onde reside, algo retratado no documentário “One More Time With Feeling”, realizado por Andrew Dominik, no qual se pode ver a fase final da produção do álbum.

Veja as fotos do concerto:

O músico e banda com ele grava e toca desde os anos de 1980, regressou a Portugal e ao festival, onde atuou há cinco anos, assumindo honras de principal destaque.

O tiro de partida foi dado ao som de "Jesus Alone". A partir daí foi uma viagem pelo mundo místico do músico. Através das suas canções, Nick Cave parece procurar a cura para a sua dor - houve drama, força e toques de ritmos selvagens.

De fato preto e com o cabelo penteado para trás, o músico tem uma presença cinematográfica em palco - pôs-se de joelhos, rezou no chão, fez poses simples e outras que quase pareciam espamos. E assim o crooner noturno de alma negra, o poeta romântico do virar do século ou o impetuoso pregador, como é muitas vezes descrito, contagiou a multidão com o seu enorme carisma e presença.

Por vezes, houve raiva na sua voz, como quando se atirou a "Distant Sky" ou quando, ao piano, fez arrepiar com "Girl in Amber".

Para além dos temas de "Skeleton Tree", Nick Cave viajou até ao passado e trouxe até ao NOS Primavera Sound temas como "Deanna", "From her to eternity", "Do you love me?", "Loverman", "The mercy seat", "The ship song", "Jubilee street" ou "Red right hand".

Nick Cave and the Bad Seeds
Nick Cave and the Bad Seeds

Pelo meio do alinhamento, houve ainda "Into My Arms". A canção de 1997 foi uma das mais abraçadas pelo público. "Cantemos juntos e assim talvez comece a chover ainda mais porque esta chuva é bonita", disse o músico.

Um concerto sombrio, com emoção e com Nick Cave a carimbar um dos momentos mais marcantes do NOS Primavera Sound. Durante mais de uma hora, o músico deixou claro que o seu drama pessoal o mudou para sempre mas que, ao mesmo tempo, terá sempre nas canções o seu lugar mais seguro. E o público agradece.

The War on Drugs

Antes da meia noite, foi a vez dos The War on Drugs subirem ao palco SEAT do NOS Primavera Sound. Ao primeiro toque, a banda de Adam Granduciel agarrou o público com as canções de rock evocativo e milimétrico.

No Parque da Cidade do Porto, a banda serviu o seu último disco, "A Deeper Understanding", convidado os fãs para uma aventura num universo crepuscular e onde qualquer um se pode perder.

O cantor e compositor Adam Granduciel, que lidera os War on Drugs, é muitas vezes comparado ao The Boss, Bruce  Springsteen. A verdade é que pisa terrenos muito próximos - como analisou a Pitchfork, "se as músicas de Springsteen eram sobre máquinas, a música dos War on Drugs é uma máquina".

No NOS Primavera Sound, levou o público até aos anos 1980, nomeadamente ao rock dos com sintetizadores. A pequena multidão que não quis perder o concerto alinhou no passeio e fez a festa com Adam Granduciel e companhia.

Os pianos de Nils Frahm

Antes da meia noite, no Palco Super Bock, Nils Frahm ofereceu um passeio pelo tempo e espaço. O compositor e produtor alemão agarrou as emoções com o seu conjunto de pianos, teclados e sintetizadores.

Mas o concerto de Frahm não foi só tranquilidade e acordes para dar a mão, abraçar e sonhar. O músico também apostou na improvisação e fez o público dançar e dançar. Uma boa surpresa na reta final da edição de 2018 do NOS Primavera Sound.

A sétima edição do NOS Primavera Sound no Porto arrancou na quinta-feira, com concertos de Lorde, Father John Misty ou Jamie XX, com A$AP Rocky, Fever Ray, Vince Staples ou Grizzly Bear a subirem ao palco na sexta-feira.