A programação do Teatro São Luiz, em Lisboa, para o período de setembro de 2022 a julho de 2023 foi hoje apresentada pela diretora artística, Ainda Tavares, para quem esta é uma espécie de “temporada ansiada”, porque muitos dos espetáculos estavam já em agenda há algum tempo, mas foram sendo adiados devido à pandemia.

Exemplos disso são os espetáculos internacionais coproduzidos pelo São Luiz com teatros e parceiros europeus, como “O Agora que Demora”, de Christiane Jatahy (de 14 a 18 de setembro), “Orlando”, de Katie Mitchell, a partir de Virgínia Woolf (6 e 7 de abril), e “Amore”, de Pipo Delbono (8 a 12 de novembro), um espetáculo criado em Portugal, país com o qual o ator e encenador italiano reconhece ter uma “especial ligação sentimental”.

O espetáculo de abertura da temporada é a segunda parte de um díptico em torno do épico de Homero, que teve início com “Ítaca”, que se estreou em Portugal, no Teatro São Luiz, em 2018, no ano em que Christiane Jatahy foi a convidada da iniciativa Artista na Cidade de Lisboa.

Relativamente à aposta no público escolar, com um foco mais direcionado para o ensino secundário, “a faixa com menos oferta na cidade”, Aida Tavares explicou que foi feito um trabalho a partir da programação geral e foi lançado um desafio aos criadores para pensar nessa faixa etária.

Um exemplo do resultado desse trabalho é a ópera “I was looking at the ceiling and then I saw the sky”, de John Adams, com encenação de Miguel Loureiro e Miguel Pereira, e direção musical de Martim Sousa Tavares, que estará em cena de 15 a 26 de março, e terá récitas comentadas para grupos escolares de jovens.

Sobre a internacionalização, a diretora artística destacou o esforço que tem sido feito para “criar possibilidades para circulação de artistas estrangeiros em Portugal”, mas também para levar artistas portugueses lá fora, nomeadamente através da rede europeia PROSPERO, a que o Teatro de São Luiz pertence.

É nesse contexto que pela primeira vez apresenta um projeto de Marco Martins, o espetáculo “Pêndulo” (16 a 18 de junho), do qual o São Luiz é coprodutor, e que subirá também aos palcos em Varsóvia, Bolonha e Berlim.

Aida Tavares destacou o facto de este ser um espetáculo sobre as trabalhadoras domésticas, que constituem uma parte significativa da força de trabalho global de emprego informal e estão entre os grupos de trabalhadores mais vulneráveis no universo laboral dos grandes centros urbanos, mas também sobre a emigração, na medida em que este trabalho é maioritariamente realizado por emigrantes.

A presidente cessante do Conselho de Administração da EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa, Joana Gomes Cardoso, presente também na sessão de apresentação da temporada, afirmou que era com “nostalgia, mas também com sentido de orgulho” que olhava para o percurso feito, sublinhando o caminho trilhado por este teatro.

Referindo-se igualmente à “internacionalização de artistas que este teatro e outros, como o TBA, fazem”, Joana Gomes Cardoso considerou ser “muito semelhante ou superior à que a DGArtes [Direção Geral das Artes] faz”, para mais quando é uma iniciativa que “não está sequer inscrita na missão destes teatros”.

A responsável lamentou ainda que Portugal tenha dos “défices de participação [no teatro] mais baixos da Europa”, problema que nem as várias medidas tomadas de incentivo à adesão do público resolveram.

Sobre esta matéria também o ator e humorista Bruno Nogueira se debruçou, na leitura de um texto de Karl Valentin, intitulado “Porque os teatros estão vazios”, uma espécie de manifesto em defesa do “teatro obrigatório” para combater esta lacuna.

Num registo irónico, foi feito um paralelismo entre o teatro e as escolas, que as crianças e jovens também não frequentariam se a isso não fossem obrigadas, imputando ao Estado a responsabilidade de instituir esta obrigação.

Pugnando pela introdução do TOU (Teatro Obrigatório Universal), o texto termina com um desafio: “Vamos para as ruas lutar e forçar o Estado a investir umas migalhas para salvar o teatro”.

É, pois, a pensar nos grupos escolares e nos jovens, que além da ópera de John Adams, a temporada contempla outros espetáculos com sessões especiais como “Má Educação”, de Inês Barahona e Miguel Fragata, “Mil e uma noites” e “Invencível Armada”, de Cátia Terrinca, “Porque é infinito”, de Victor Hugo Pontes, “C., Celeste e a primeira virtude”, de Beatriz Batarda, e “O que é um problema?”, de Beatriz Valentim.

Sobre “C., Celeste e a primeira virtude”, que estará em cena em abril, Aida Tavares explica tratar-se de uma estreia, que se faz acompanhar de uma instalação-vídeo, “Corpos celestes”.

Tanto este espetáculo como a ópera “I was looking at the ceiling and then I saw the sky” estão integrados na “Bienal Cultura e Educação, 2023 RETROVISOR: Uma História do Futuro”, do Plano Nacional das Artes, que decorrerá de março a junho de 2023.

“C., Celeste e a primeira virtude” é um espetáculo a propósito dos trilhos que o ensino artístico abre para o rasgo da invenção.

Trabalhando com jovens artistas das áreas de teatro, artes visuais e dança para este projeto, Beatriz Batarda confessou que são “os mais novos” que a obrigam cada vez mais a posicionar-se em relação à liberdade e à liberdade na arte”.

Durante a investigação e processo de escrita desta peça de teatro, da atriz Beatriz Batarda, nasceu o projeto “Corpos Celestes”, uma vídeo-instalação com cinco ecrãs e histórias narradas a partir de testemunhos de cinco jovens.

“Nestes laboratórios, fui filmando este material, ideias novas e boas que não consigo ter. Fomos gravando e guardando. Decidimos então agarrar no material e fazer a videoinstalação”, contou.

Sobre o seu outro projeto, que se estreia em fevereiro, “Outra bizarra salada”, Beatriz Batarda explicou que se trata de uma “revisitação” da comédia musical “Uma bizarra salada” (2011 e 2012), também criação sua, inspirada no espetáculo “E não se pode exterminá-lo?”, um dos momentos mais icónicos do Teatro da Cornucópia dos anos 1970, com encenação de Jorge Silva Melo.

Trata-se de um espetáculo criado a partir de uma seleção de textos de Karl Valentin, que reúne a Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direção do maestro Cesário Costa, e tem no elenco Bruno Nogueira, Luísa Cruz e Rita Cabaço.

Aida Tavares salientou que a Orquestra Metropolitana de Lisboa volta a ser “presença assídua e cúmplice nesta temporada”, integrada em três projetos de teatro, além do concerto de Natal e do Festival de Violoncelo, dedicado a Paulo Gaio Lima.

A diretora artística destacou ainda duas reposições que o teatro fará: “Lindos Dias” (a partir de “Happy Days” de Samuel Beckett), com encenação de Sandra Faleiro, e “A reconquista de Olivenza”, ali estreado em 2020 por Ricardo Neves-Neves e Filipe Raposo, com o maestro Cesário Costa, a mesma equipa que fechará esta temporada com a estreia de “O livro de Pantagruel”.

Outro espetáculo destacado pela responsável é “Última memória”, de Sara Carinhas, que se estreia em março, e que é a última etapa de uma trilogia dedicada a Virginia Woolf, sobre a memória e “o medo de esquecer”, como descreveu a própria encenadora e autora do texto.

“Estrada de terra”, escrito e encenado por Tiago Correia, “jovem encenador que se apresenta pela primeira vez em Lisboa”; “Tudo sobre a minha mãe”, de Daniel Gorjão, baseado no filme homónimo de Pedro Almodóvar; “Onde é que eu ia?...”, espetáculo a solo de Nuno Artur Silva; “Fonte de raiva”, primeira encenação de Cucha Carvalheiro; “Um rufia nas escadas”, de Miguel Loureiro, são outros espetáculos destacados por Ainda Tavares.

No final da apresentação, a diretora artística revelou que nesta temporada o São Luiz regista uma paridade entre espetáculos de homens e de mulheres, e que se estreiam 16 artistas que ali apresentarão criações suas pela primeira vez.

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