"Quando arranquei, pensei fazer um trabalho que me pudesse entusiasmar. Ao fim de uns anos, não queria repetir a fórmula de gravar um disco. Pensei fazer uma aventura um bocadinho mais arrojada. Estou satisfeito por ter feito o caminho, mas se soubesse o que sei hoje, tinha feito outro tipo de conceito, porque foi um ano demasiado intenso", admitiu o músico à agência Lusa.

O músico propôs-se lançar quatro EP ao longo deste ano - ou um álbum dividido em quatro partes - inspirado no título "Le Quattro stagioni", de Vivaldi, e no conceito de viagem, a partir de nomes de estações de comboios de Lisboa.

As composições, para viola campaniça foram sendo feitas à medida que planeava a edição de cada registo - cinco temas por EP -, tendo sido editados "Rossio" (fevereiro), "Santa Apolónia" (maio), "Cais do Sodré" (outubro) e, agora, "Alcântara-Terra", em dezembro.

"Isto requereu que eu quase desistisse do trabalho que tenho para lá da música para conseguir mergulhar na composição destes temas todos", disse João Morais, músico há 31 anos, e tatuador há duas décadas.

Na abordagem ao trabalho de composição, apesar da pressão dos prazos auto-impostos, João Morais recordou o entusiasmo da criação com aquele instrumento de cordas, inspirando-se também na música que andava a ouvir em cada momento, do rock à música tradicional.

"Abriu um portão grande para um mundo novo, e a minha criatividade renovou-se bastante. A viola campaniça ainda se mantém uma novidade para mim, apesar de tudo, pela sua história que vou conhecendo à medida que me vou cruzando com outros tocadores, com alguns espaços que têm a campaniça como referência", disse.

Apesar de ter sido um trabalho solitário, cada um dos EP contou com convidados, como o poeta José Anjos, a violoncelista Joana Guerra, o contrabaixista Carlos Barretto e o pianista Karlos Rotsen. Os concertos que está a planear para 2020 deverão contar com a participação de alguns desses .

João Morais, músico desde finais dos anos 1980 e que integrou, entre outras bandas, os Gazua, criou o alterego O Gajo em 2016 precisamente para explorar os caminhos criativos da viola campaniça, também conhecida como viola alentejana.

Em 2017 lançou o álbum "Longe do chão", pela Rastilho Records.

O guitarrista fará dois concertos, de apresentação do último EP, a 7 de dezembro no Clube Ferroviário, em Lisboa.