O prémio é promovido pelo Spazio Teatro No'hma de Milão, Itália e, na apreciação, o júri elogiou o espetáculo “pela transposição da dimensão carnavalesca de um ritual de procissão para uma performance hipnótica e de energia irreprimível, que mantém em vida a memória dos mortos, estimulando a consciência dos vivos e erguendo-se com a força do corpo e da voz contra qualquer forma de imperialismo e de racismo", precisa a informação divulgada pela Direção-Geral das Artes (DGArtes).

A peça “O Riso dos Necrófagos”, estreada no Grande Auditório da Culturgest em abril de 2021, tem por base testemunhos da Guerra da Trindade, encontrados na ilha de São Tomé, pela encenadora Zia Soares e pelo músico Xullaji, através de "dos que a viveram e dos que a ouviram contar", assim como de "relatos de memórias desfocadas pela passagem do tempo".

"Nesta guerra, os mortos foram amontoados em valas comuns ou no fundo do mar, num exercício de violência, perpetrado pelo invasor que acredita que, ao despojar os mortos dos seus nomes, os condena ao esquecimento. Mas para os santomenses, são presenças na ilha como símbolo encarnado e, para os celebrar, anualmente, no dia 3 de fevereiro, cumprem um itinerário ritualístico, desfilando ao longo de várias horas numa marcha amplificadora de falas, cantos, risos e sons que saem de corpos convulsos", lê-se na apresentação da peça do Teatro Griot.

O espetáculo constitui, assim, um "prolongamento desse percurso celebratório, entrópico, onde os atuantes manipulam tempos e imagens, desossam e riem do delírio, reconfigurando os vestígios e os fragmentos do morticínio, a partir da ideia de celebração - a festa, a liturgia e os aspetos ritualísticos do quotidiano".

Presidido pela diretora artística do Spazio Teatro No’hma, Livia Pomodoro, o júri do prémio integrou ainda Lev Abramovič Dodin, diretor artístico de Malyj Dramatičeskij (Teatro de São Petersburgo), o encenador grego Stathis Livathinos, fundador e diretor artístico da Compagnia Teatrale Enzo Moscato, o encenador espanhol Lluís Pascal, o diretor da Suzuky Company of Toga – SCOT no Japão, Tadashi Suzuki, o encenador alemão Peter Stein, o fundador e diretor artístico do Oskaro Koršunovo Teatras de Vilnius – OKT, Oskaras Koršunovas, a diretora do Teatro Nacional de Nice, Muriel Mayette-Holtz, o diretor artístico do Teatro Nacional Tunisino, Fadhel Jaïbi, e o presidente dos Teatros da União Europeia e diretor do Teatro Húngaro de Cluj (Roménia).

Os prémios foram anunciados no passado dia 3, numa cerimónia em que estiveram presentes Zia Soares, diretora artística do Teatro Griot e encenadora da peça, e parte da equipa artística do espetáculo, nomeadamente Benvindo Fonseca, Daniel Martinho, Mick Trovoada, Neusa Trovoada e Xullaji.

O Teatro Griot é "uma companhia de atores cujo trabalho se desenvolve a partir da tensão entre corpo e território, imaginários coletivos e individuais, operando num espaço de intersecção de territórios geográficos e simbólicos como ponto nevrálgico de um movimento artístico de contra-memória".

No ano passado, depois da estreia na Culturgest, “O Riso dos Necrófagos” foi representado no Convento São Francisco, em Coimbra, e, este ano, foi posta em cena no Teatro No'hma, em Milão, e na Bienal de São Tomé e Príncipe.

No passado mês de janeiro, a companhia estreou “Uma Dança das Florestas”, uma das mais conhecidas dramaturgias do escritor nigeriano Wole Soyinka, sobre “o que é ser independente e estar livre”, como a encenadora Zia Soares disse então à Lusa.

Em setembro, levou à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a performance “Fanun Ruin”, que propõe uma reflexão sobre passado colonial, identidade e luto.

Em outubro, estreou, no Cineteatro Louletano, “No Meio do Caminho”, uma adaptação da obra clássica "A Divina Comédia", de Dante Alighieri.