Mais de 30 anos após a morte do escritor e ativista James Baldwin, e um ano depois da estreia do documentário “Eu não sou o teu Negro”, que adapta um dos seus livros, a obra daquele que é considerado um dos nomes maiores da literatura americana e uma das vozes mais influentes do movimento dos direitos civis vai ser publicada em Portugal, com a sua entrada no catálogo da Alfaguara, chancela do grupo Penguin Random House.

Segundo a editora, “Se esta rua falasse” (“If Beale Street Could Talk”, no original) é um romance “sensual, violento e profundamente comovente”, uma “bela canção de blues, de toada doce-amarga, com notas de raiva e ainda assim cheia de esperança”.

Publicado pela primeira vez em 1974, este é o quinto romance de James Baldwin, um “romance-manifesto” contra a injustiça da justiça e uma história de amor intemporal, tão pertinente e comovente hoje, como no dia da sua publicação, descreve a editora.

O livro narra a história de amor de um casal, que se vê forçado à separação, quando o rapaz é preso sob uma falsa acusação de violação.

Na mesma altura, a rapariga descobre estar grávida e enceta uma luta, com a ajuda da família e de um advogado, para conseguir provar a inocência do noivo antes do nascimento do filho.

A Alfaguara tem já prevista também a edição, em 2019, do livro “Go tell it on the Mountain”, o romance de estreia de Baldwin, escrito em 1953, que na altura foi recebido com excelentes críticas.

Romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta e crítico social norte-americano, James Baldwin, negro e homossexual assumido, nasceu em Nova Iorque em 1924 e desde cedo se bateu contra o racismo e a discriminação social, em nome da defesa dos direitos dos negros e dos homossexuais.

Esta luta travou-a na vida e na escrita, tendo publicado, até à morte, ocorrida em 01 de dezembro de 1987, mais de 20 livros, entre ensaios, romances, contos, poemas e peças.

Uma dessas obras é um manuscrito incompleto, que se intitularia “Remember This House”, no qual o realizador Raoul Peck se inspirou para criar um filme que traça uma viagem à história negra norte-americana, ligando o passado do Movimento dos Direitos Civis ao presente do movimento ativista Black Lives Matter.

O filme cumpre o desejo manifestado em vida por James Baldwin de contar a história do racismo nos Estados Unidos, com relatos sobre as vidas de três amigos seus assassinados: os líderes ativistas Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr.

O documentário estreou-se em Portugal em 2017, trazendo de novo James Baldwin para a atualidade, ao ponto de outro realizador, Barry Jenkins, autor do filme vencedor do Óscar “Moonlight”, ter anunciado a intenção de adaptar ao cinema “Se esta rua falasse”, o romance que está agora a ser lançado em Portugal.

Ao levar James Baldwin para Hollywood, os filmes trazem também à atualidade os temas que o autor sempre tratou, como as complexidades sentidas, embora não totalmente assumidas, nos anos 1950 e 1960, sobre a sexualidade e sobre a distinção de classes raciais nas sociedades ocidentais, em particular nos Estados Unidos.

O seu trabalho tem sido recuperado também por outros autores que procuram afirmar a sua relevância na atualidade como em 1967, sendo múltiplos os textos que salientam a necessidade de se ler Baldwin para compreender os Estados Unidos da América hoje, sob a presidência de Donald Trump.

As preocupações de James Baldwin em torno da condição humana são particularmente exploradas nos seus ensaios “Notes of a Native Son” (1955) e Nobody Knows my Name: More Notes of a Native Son” (1961).

Alguns textos ensaísticos do escritor ativista assumem a dimensão de livros, como acontece com “The Fire Next Time” (1963), “No Name in the Street” (1972), e “The Devil Finds Work” (1976).

Ao longo da sua vida literária, James Baldwin transformou também em ficção e em peças as suas dúvidas e os seus dilemas pessoais, relacionados com as pressões sociais e também psicológicas que tornavam impossível integrar e igualar na sociedade tanto negros como homossexuais e bissexuais.