A vida de Victor Hugo, nascido em 1802 em Besançon, atravessa quase todo o século XIX e, para um espírito ativo como o do francês, não é espantoso que se tenha metido nas mais diversas correntes políticas (por vezes antagónicas - como o seu início monárquico que dará lugar ao republicanismo a meio do século) e estéticas - começando no intimismo emocional do Romantismo para apanhar o comboio da transição para o Realismo.

“Os Miseráveis”, publicado em 1862, entra já nesta fase - onde preocupações de Victor Hugo que já se manifestavam há muito são cristalizadas de uma forma inesquecível dentro de uma tradição narrativa com as suas tramas e inúmeras subtramas que lhe dava uma dimensão épica.

A história organiza-se, no entanto, à volta de duas personagens principais - os “miseráveis” Jean Valjean, condenado às galés por roubar um pão e que será vítima, ao longo do tempo, da perseguição implacável do inspetor Javert, e Cosette, a filha da prostituta Fantine, que não consegue criá-la. Mesmo assim, há inúmeras quebras, não só pela introdução de outras histórias, como por outros “motivos”, que iam desde exposições de pontos de vista morais de Victor Hugo até descrições enciclopédicas de diversqos temas e locais - incluindo uma vasta pesquisa sobre a batalha de Waterloo.

Em oposição à literatura intimista, Victor Hugo construiu à volta dos acontecimentos todo um pano de fundo que acompanha a evolução política e social do primeiro terço do século XIX - onde o forte sentido de injustiça e abuso de poder percorre toda a narrativa. Consciente destas opções, o escritor também entendia a universalidade dos seus temas, afirmando que a história poderia passar-se em qualquer lugar.

O quotidiano e os mais diversos dramas que testemunha pelas ruas e em viagens são efemérides reinventadas e descritas no livro. A maior fonte de inspiração, no entanto, foi literária - na senda da popularização dos “serials” de Eugène Levy, o qual, duas décadas antes, havia produzido em pequenos capítulos uma vasta história que terminou com a publicação de “Les Mystéres de Paris”, um enorme sucesso.

Os Miseráveis (2012)

O sentido de grandiosidade do livro raramente escapou ao audiovisual: já lá vão dezenas de adaptações ao cinema (na última foi transformada em musical por Tom Hooper, com Hugh Jackman no papel principal) e televisão - para além de vários outros formatos, como a BD.

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