O romance é composto por 11 narrativas eróticas, contadas em três noites pelas freiras de um convento português, “para criarem entre elas uma ‘perfeita intimidade’, o que acontece logo no final do primeiro serão, quando as freiras saem aos beijos da cela de soror Teresa de Jesus, em casais ou trios, dirigindo-se às suas próprias celas”, segundo comunicado da INDEX ebooks.

A obra tem um prefácio de autoria dos catedráticos em Literatura Comparada e Letras Helder Thiago Maia, da Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro, e Mário César Lugarinho, da Universidade de S. Paulo, no qual afirmam que o romance foi “impresso originalmente em formato de livro de bolso, em tamanho suficientemente pequeno para o livro aberto caber inteiro em uma única mão”.

“Os Serões do Convento” (1862), prosseguem os investigadores, “é um projeto literário pensado em seu conteúdo e em sua impressão como litera(mão), ou melhor, como texto onde o leitor com uma mão segura o livro, enquanto com a outra realiza a receção literária através de prazeres experimentados no próprio corpo”.

“A leitura, assim, está atravessada pelo próprio prazer erótico do leitor”, afirmam os prefaciadores, advertindo que “nem toda a litera(mão) é necessariamente subversiva, ao contrário, muitas vezes o prazer da leitura está associado à repetição das normatividades”, numa referência ao semiólogo e filósofo francês Roland Barthes (1915-1980).

Na opinião Helder Thiago Maia e Mário César Lugarinho, a “narrativa está marcada, em sua grande parte, por uma desterritorialização das normatividades de género e sexualidade”, e por outro lado, “a forma de comercialização do livro, dentro da categoria ‘romance para homens’, não só indicava o conteúdo erótico da obra, como também sugeria uma limitação do público ao qual o gozo da leitura estava destinado” - o masculino.

Referindo-se ao ambiente narrativo, os catedráticos escrevem que “sob o signo da libertinagem e/ou da patologização surgiram os primeiros personagens que se relacionam sexualmente e/ou afetivamente com personagens do mesmo género, assim como também aparecem personagens que transgridem as normatividades de género”.

“Desta forma, 'Os Serões do Convento' é também parte da historiografia literária LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais] brasileira e portuguesa", atestam.

O livro, encontrado no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, é assinado com o pseudónimo M. L., mas a sua autoria foi atribuída a José Feliciano de Castilho, irmão do poeta romântico António Feliciano de Castilho (1800-1875), autor entre outros títulos de “A Primavera” (1822).

Os dois irmãos, José e António, empreenderam vários projetos juntos, em 1866 viajaram juntos até Paris, onde conheceram o escritor Alexandre Dumas, e publicaram “Livraria Clássica” (1846).

O autor de "O Serões do Convemto", José Feliciano de Castilho, estreou-se literariamente em 1827 com a comédia “O estudante de Coimbra, ou um fidalgo como há muitos”. Opositor do absolutismo monárquico, fugiu em 1829 para França onde se diplomou em Medicina.

Em 1836, juntamente com outros escritores, fundou o Jornal da Sociedade dos Amigos das Letras, colaborou no Independente, na publicação Guarda Avançada aos Domingos, entre outros títulos da imprensa, e em 1841 fundou a Revista Universal Lisbonense, com outro irmão, Alexandre Magno de Castilho.

José Feliciano de Castilho, em 1846, foi nomeado bibliotecário-mór da Biblioteca Nacional de Lisboa e voltou às lides políticas, tendo sido voluntário num batalhão em defesa da Carta Constitucional e posteriormente deputado.